Bad Bunny, um dos maiores artistas globais da atualidade, conseguiu mais um feito com seu sexto álbum de estúdio, “DeBÍ TiRAR MáS FOToS”. Longe de se apoiar exclusivamente no reggaeton ou em sonoridades eletrônicas que o consagraram, o artista conquistou o topo do Top Latin Albums da Billboard e chegou ao segundo lugar na Billboard 200 apostando em ritmos tradicionais como salsa, plena e música jíbara.
Essa abordagem, além de estar alinhada à identidade artística de Benito Antonio Martínez Ocasio, reflete uma maior aceitação do mainstream por sons latinos que, até então, estavam fora dos holofotes.
A tradição em sintonia com o mercado
O sucesso de “DeBÍ TiRAR MáS FOToS” não é apenas uma vitória pessoal para Bad Bunny, mas também para a cultura porto-riquenha, que ganha destaque em um momento em que o mercado musical global tem demonstrado um apetite crescente por ritmos latinos mais enraizados. O álbum estreou com 152,6 milhões de streams oficiais em sua primeira semana nos Estados Unidos, indicando que o público global está disposto a consumir sons que transcendem as tendências modernas e abraçam a tradição.
Em faixas como “NUEVAYoL” e “CAFé CON RON”, Bad Bunny mistura elementos modernos, como sintetizadores e produções de alta fidelidade, com ritmos tradicionais que carregam a herança afro-caribenha da ilha. Essa visão acena a um mercado que tem sido progressivamente conquistado por outros artistas latinos que também apostam em sonoridades autêuticas – sem se restringir a Porto Rico.
Nomes como Grupo Frontera e Peso Pluma, do México, são exemplos recentes de artistas que levaram gêneros como norteño e corridos ao topo das paradas, comprovando a abertura crescente para sons latinos tradicionais. Não é por acaso que Benito lançou, em 2023, uma parceria com o grupo mexicano: a irresistível “un x100to”.
A nova geração de artistas porto-riquenhos
Em Porto Rico, artistas emergentes têm seguido um caminho semelhante ao de Bad Bunny ao destacar gêneros locais em suas produções. A jovem cantora RaiNao, por exemplo, contribui para manter viva a plena ao misturá-la com influências contemporâneas, como R&B e pop eletrônico. Ela foi destaque no álbum de Bad Bunny com a faixa “PERFuMITO NUEVO”, que traz arranjos de percussão característicos da música porto-riquenha em diálogo com beats modernos.
Outro exemplo é o grupo Pleneros de la Cresta, que participou de “CAFé CON RON”, mostrando como a plena pode se adaptar a uma audiência mais ampla sem perder suas raízes. Esses artistas não apenas perpetuam a herança cultural da ilha, mas também encontram novas formas de dialogar com o mercado global, algo que Bad Bunny tem feito de forma exemplar.
A Escola Libre de Música também tem um papel importante na formação de novos talentos. Jovens instrumentistas dessa instituição participaram de faixas como “BAILE INoLVIDABLE”, demonstrando a riqueza de sua formação e seu compromisso com a preservação cultural. A colaboração com Bad Bunny coloca esses talentos no centro de uma conversa global sobre tradição e modernidade.
Além disso, os royalties de uma colaboração com este nível de exposição tem o potencial de mudar a realidade de artistas e projetos de alcance local. A prática de mesclar nomes estabelecidos com joias ainda desconhecidas do grande público é recorrente na discografia do “Conejo Malo”. Nela, Rosalía, Daddy Yankee, Myke Towers, Rauw Alejandro e Bomba Estéreo dividem espaço com nomes em ascensão, como Young Miko e Buscabulla.
Nos últimos anos, a maior presença de ritmos latinos em premiações globais, como o Grammy, também contribuiu para abrir espaço para gêneros que antes eram considerados de nicho. Bad Bunny, com seu status de ícone cultural, tem ajudado a elevar essa conversa, provando que sons autêuticos também podem ser altamente comerciais.
O impacto de Bad Bunny na aceitação global
Bad Bunny sempre se destacou por ser um artista que transcende fórmulas fáceis. Desde sua estreia com “X 100PRE” até álbuns como “Un Verano Sin Ti”, ele explorou gêneros como reggaeton, trap e pop caribenho, mas sempre com um olhar atento às suas origens. Com “DeBÍ TiRAR MáS FOToS”, ele dá um passo além, posicionando ritmos como salsa e plena no coração de um projeto que dialoga com questões culturais e políticas.
O sucesso do álbum também está ligado a um trabalho de comunicação cuidadoso. Bad Bunny utilizou o YouTube para lançar clipes que exploram a história porto-riquenha e criou uma experiência interativa em parceria com Google Maps, permitindo que os fãs explorassem pontos de referência cultural da ilha. Essa abordagem inovadora conecta o público a Porto Rico de forma única, transformando o consumo de música em uma experiência imersiva.
Clipes como “LO QUE LE PASÓ A HAWAii” exploram a relação entre turismo e gentrificação, enquanto a faixa “TURiSTA” se torna um paralelo emocional entre um romance passageiro e as consequências do desenvolvimento predatório em Porto Rico. Esse diálogo entre temas pessoais e políticos amplia a profundidade do trabalho de Bad Bunny.
Resistência cultural e globalização
Há quem diga que “DeBÍ TiRAR MáS FOToS” é um álbum conceitual, afinal, há uma identidade pensada para contar uma história – a de exploração e gentrificação de Porto Rico, e da resistência de seu povo. Porém, a narrativa extrapola o disco.
O lançamento do curta-metragem inspirado no álbum foi uma das estratégias mais comentadas, trazendo um retrato visual poderoso. O filme explora as mudanças na ilha e o impacto cultural da colonização, gerando discussões nas redes sociais sobre a necessidade de preservar a identidade local.
Outro ponto que tem engajado os fãs é a capa do disco, que apresenta duas cadeiras de plástico em um quintal típico do Caribe, cercadas por uma vegetação que evoca lembranças familiares. Nas redes sociais, os usuários têm compartilhado imagens semelhantes acompanhadas de histórias pessoais, conectando-se ao tema de memória e saudade presente no título do álbum. Essa conexão emocional se estendeu ao sucesso viral da faixa-título, que inspirou tendências no TikTok onde pessoas postam fotos antigas com entes queridos, motivadas pela letra reflexiva que celebra momentos passados. Bad Bunny postou um vídeo chorando ao reagir às postagens feitas com a canção, criando um ciclo de memória e nostalgia que une os diferentes povos da América Latina.
Para completar, Bad Bunny anunciou que sua próxima residência será em Porto Rico, ao contrário de Las Vegas, escolha comum entre artistas de grande porte. No mesmo anúncio, acenou ao público brasileiro, dizendo que quer, sim, se apresentar pela primeira vez em lugares onde nunca esteve antes. Essa decisão ressalta seu compromisso em promover sua terra natal como um centro cultural e artístico, destacando a importância de valorizar espaços locais em vez de seguir modelos tradicionais do mercado global. Com essa abordagem, Bad Bunny reforça sua posição como um dos principais defensores da cultura latina na atualidade.