A relação entre música e tecnologia continua se transformando à medida que novos dispositivos entram no dia a dia das pessoas. Um levantamento da YouGov mostra que a música continua sendo central na experiência de quem utiliza assistentes digitais como Alexa, Siri e Google Assistant, que hoje estão presentes nas caixas de som inteligentes, em celulares, televisores e automóveis.
De acordo com a pesquisa, 51% dos usuários norte-americanos de assistentes digitais recorrem a eles para ouvir música. O número coloca a prática como a segunda mais comum, atrás apenas da checagem da previsão do tempo (59%).
Esse uso supera outras funções recorrentes como buscar informações na internet (47%) ou configurar alarmes (40%). O dado reforça o potencial da música como hábito imediato de consumo, especialmente em dispositivos ativados por voz.
A música como porta de entrada para a voz
Os resultados sugerem que a música funciona como a principal forma de engajamento inicial com assistentes digitais. Ao pedir para tocar uma canção ou playlist, o usuário estabelece uma interação simples, de baixa complexidade, mas que ajuda a consolidar o hábito de uso. Para as plataformas de streaming, isso significa mais um ponto de contato com o público e mais uma oportunidade de fidelizar ouvintes.
Mesmo entre as diferentes gerações, o estudo indica que a música ocupa papel de destaque. Entre os mais jovens da geração Z, 46% afirmaram usar os assistentes para essa finalidade, enquanto entre millennials a taxa sobe para 55%. O índice mostra que, embora os jovens já utilizem o celular como principal dispositivo para escutar faixas, os assistentes também cumprem um papel complementar. Isso porque têm maior potência de som e ainda poupam a bateria dos telefones.
Novo espaço para descoberta musical

O uso dos assistentes digitais como ferramenta para ouvir música amplia o ecossistema de descoberta. Cada vez que um usuário pede uma faixa, uma rádio ou uma playlist personalizada, o sistema pode sugerir novidades e artistas relacionados. Isso transforma esses dispositivos em mais um canal de promoção dentro da engrenagem do streaming.
Para artistas e gravadoras, o dado representa a necessidade de pensar em estratégias específicas para esse tipo de consumo. As buscas por voz tendem a ser mais diretas e dependem de comandos claros, o que pode impactar desde a forma como metadados são cadastrados até a escolha de títulos de faixas e álbuns.
Evolução dos assistentes e impacto no setor
O cenário também se conecta ao avanço das tecnologias de inteligência artificial nos próprios assistentes. A Amazon lançou recentemente o Alexa+, a Apple trabalha em uma reformulação da Siri e o Google já substitui o Google Assistant pelo Gemini em alguns dispositivos. Em todos os casos, a tendência é que esses sistemas passem a oferecer respostas mais inteligentes, abrindo espaço para recomendações musicais cada vez mais personalizadas.
Para o mercado da música, essa evolução pode significar novos formatos de engajamento. A possibilidade de dialogar com um assistente que entende preferências e contextos amplia o potencial de sugerir lançamentos, playlists temáticas e até experiências imersivas, conectando os consumidores com suas bibliotecas e ampliando a descoberta de repertório.
Convergência entre dispositivos
Outro ponto relevante é que os assistentes digitais não se limitam mais às caixas de som inteligentes. Hoje eles estão embutidos em celulares, televisores e sistemas automotivos, ampliando o alcance da música em diferentes momentos do dia e cômodos de uma casa. O consumo via voz acompanha a rotina e reforça a presença da música como trilha contínua, acessada em múltiplos formatos.
Essa convergência cria para a indústria fonográfica um ambiente de distribuição ainda mais pulverizado, mas também mais rico em dados sobre hábitos de consumo. Saber como, onde e quando as pessoas pedem músicas a seus assistentes pode se tornar um diferencial competitivo para selos, distribuidoras e plataformas.
Presença e uso dos assistentes digitais no Brasil
No Brasil, o uso de assistentes de voz vem crescendo de maneira significativa. Um estudo da Ilumeo de 2025 aponta que o número de brasileiros que utilizam assistentes de voz diariamente mais que dobrou em cinco anos, saltando de 18% em 2020 para 39% em 2025. Além disso, 60% dos brasileiros afirmam preferir interagir com esses assistentes por voz em vez de digitar textos.
A presença de diferentes assistentes também apresenta posicionamento variado no mercado. A Alexa, da Amazon, lidera com 48% de lembrança espontânea entre os brasileiros, ocupando o topo da preferência. Em seguida, vêm o Google Assistente (16%) e, um pouco mais distante, a Siri (8%).
Essa adoção expressiva tem impacto direto no consumo de música. Dados da Amazon Brasil indicam que, ao longo de 2023, os brasileiros ouviram mais de 2 bilhões de horas de música, rádio, podcasts e audiolivros em dispositivos com Alexa. Além disso, foram registradas mais de 2 bilhões de interações para acionar dispositivos inteligentes, como luzes e televisores.
Esses números destacam o papel cada vez maior dos assistentes de voz na rotina musical dos brasileiros. Eles representam um canal adicional de acesso a playlists e bibliotecas de streaming e ainda fortalecem a voz como interface natural de busca e consumo.
O papel estratégico para o futuro
O estudo da YouGov sinaliza que, mesmo com a diversificação de funções dos assistentes digitais, a música permanece como um dos pilares desse ecossistema. Para os serviços de streaming, isso representa um campo de atuação que extrapola o aplicativo no smartphone. Para artistas e gravadoras, trata-se de mais um espaço de exposição e de construção de audiência.
O desafio agora é compreender de que maneira os comandos de voz e as recomendações baseadas em IA podem ser incorporados às estratégias de lançamento e marketing musical. À medida que os assistentes se tornam mais inteligentes, cresce também o potencial de transformar simples pedidos por uma faixa em oportunidades de descoberta e conexão com novos públicos.
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