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NITO calcula que, a cada US$ 100 em ingressos, artistas ficam com apenas US$ 8

Organização americana de talentos independentes afirma que grande parte do valor do ingresso cobre custos de produção, enquanto os músicos recebem uma fração pequena do total.
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Nathália Pandeló
Ingressos da turnê de celebração dos 50 anos da banda Grateful Dead, realizada em junho de 2015, mostrando detalhes e data do evento.

A National Independent Talent Organization (NITO), entidade que representa agências e empresários independentes da música nos Estados Unidos, divulgou um estudo que detalha como o preço de um ingresso de show é distribuído no mercado americano. 

Usando um bilhete de US$ 100 como base, a análise aponta que a maior parte do valor cobre custos operacionais, deixando pouco para os artistas. Infelizmente, não há um estudo semelhante sobre o mercado brasileiro, o que dificulta a comparação direta entre as realidades dos dois países.

De acordo com o levantamento, taxas de bilheteria representam mais de 20% do preço total, o equivalente a cerca de US$ 22. Esse valor é dividido entre a casa de shows, os promotores e as plataformas de venda de ingressos. Os artistas não recebem nada dessa parcela. Nos últimos anos, essas taxas aumentaram nos Estados Unidos, alcançando em média 28% do valor nominal do ingresso.

Boa parte do valor cobre os custos do evento

Outros 30%, ou US$ 30, são destinados a despesas operacionais, como equipe do local, segurança, produção e equipamentos de som. Os US$ 48 restantes são divididos entre o artista e o promotor ou local do evento. O artista fica com cerca de 85% (US$ 40), mas é obrigado a usar essa parte para cobrir salários da equipe, hospedagem, transporte, equipamentos e outros custos da turnê. Ao final, o lucro efetivo é de apenas US$ 8 por ingresso vendido.

Esses valores são médias e dependem muito do tamanho da turnê e dos locais onde os shows acontecem. Mesmo artistas com públicos fiéis e shows lotados acabam enfrentando margens pequenas devido aos custos altos.

Grandes nomes dominam a renda mundial de shows

Enquanto artistas independentes lutam para manter suas turnês viáveis, nomes consagrados como Taylor Swift e Beyoncé dominam o mercado global. Dados de 2017 revelam que 60% de toda a renda mundial de shows foi concentrada entre os 1% dos artistas mais bem pagos. O estudo, realizado pelo economista Alan Krueger, mostrou que a fatia destinada a superestrelas tem crescido nas últimas décadas, reduzindo o espaço para outros artistas no mercado.

Turnês como as de Beyoncé e Ed Sheeran em 2018 arrecadaram valores recordes, com bilhões em ingressos vendidos. O estudo calculou que, no caso das grandes estrelas pop, cerca de 60% da arrecadação vai direto para o bolso do artista. Esses shows têm preços médios altos, sustentados por um público fiel que está disposto a pagar. Em contraste, artistas menores, mesmo com shows lotados, enfrentam margens muito mais apertadas.

A discussão sobre transparência nas bilheterias

Nos Estados Unidos, o debate sobre a transparência no mercado de ingressos tem ganhado força. Empresas como a Live Nation e a Ticketmaster, que dominam o setor de eventos ao vivo, são criticadas pela cobrança de taxas e pela falta de controle dos artistas sobre os valores finais. Além disso, plataformas de revenda aumentam ainda mais os preços, tornando os ingressos menos acessíveis para o público.

A NITO apoia o projeto “Fix the Tix”, que propõe medidas como limitação da revenda especulativa e maior detalhamento sobre as taxas cobradas. O objetivo é trazer mais clareza sobre o preço final dos ingressos e garantir que o dinheiro investido pelos fãs tenha um impacto real nos shows.

Imagem de ingressos de shows de artistas populares como Justin Bieber e Harry Styles, destacando eventos musicais grandiosos e memoráveis.

A situação dos artistas independentes

Manter uma turnê lucrativa é um desafio para os artistas, principalmente os independentes. Mesmo com ingressos mais caros, os custos são altos e nem sempre deixam espaço para lucro. Salários da equipe, aluguéis de veículos, hospedagem e equipamentos acabam consumindo a maior parte da receita.

A venda de merchandising é uma alternativa comum para complementar a renda durante turnês, mas nem isso é garantido. Algumas casas de shows começaram a cobrar uma porcentagem sobre as vendas de produtos, o que prejudica ainda mais a receita dos artistas.

Falta de dados sobre o mercado brasileiro

Enquanto o estudo da NITO detalha a realidade americana, no Brasil ainda faltam pesquisas semelhantes para entender como o valor dos ingressos é distribuído. A estrutura dos custos aqui também é alta, com despesas de produção, taxas de bilheteria, impostos e logística. Sem dados claros, fica difícil avaliar como os artistas brasileiros estão lidando com esses desafios.

Essa discussão é fundamental para que o público entenda para onde vai o dinheiro do ingresso e como isso impacta a sustentabilidade dos shows. Artistas e empresas do setor defendem que mais transparência e controle poderiam ajudar a equilibrar melhor os ganhos entre todos os envolvidos, sem prejudicar os fãs que querem assistir aos seus artistas favoritos.

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