Nos últimos anos, startups e projetos independentes passaram a ocupar um espaço estratégico entre os gargalos da recomendação algorítmica e a busca por autonomia artística. A Algohits é uma dessas iniciativas que tenta reorganizar a relação entre artistas e público, não pela lógica da viralização, mas por meio de campanhas personalizadas baseadas em dados reais de engajamento.
A proposta é atuar fora da lógica de ranqueamento dos grandes players de streaming, priorizando o engajamento real com nichos de audiência e a construção de trajetórias autorais. Com isso, a Algohits tem chamado atenção por oferecer um modelo baseado na leitura de comportamento e na escuta ativa dos próprios criadores.
Inteligência algorítmica com foco em campanhas
Ao contrário das plataformas que utilizam algoritmos para sugerir músicas a partir de tendências gerais de consumo, a Algohits desenvolveu sistemas próprios voltados à performance de campanhas publicitárias. A leitura é feita com base em parâmetros musicais (como “mood”, “peso” e “dançabilidade”) cruzados com dados de interação concreta (como cliques em pré-saves, vendas de merchandising e navegação em páginas de artistas).
Segundo o CEO e fundador Moises Bekerman, o foco está em criar conexões com ouvintes que já demonstram interesse em universos musicais semelhantes.
“Enquanto os gigantes do streaming buscam padronizar gostos, a gente trabalha para encontrar o público certo para a verdade artística de cada banda. Não queremos criar tendências — queremos amplificar vozes”, afirma.
Esse modelo permite que as campanhas sejam mais direcionadas, com estratégias ajustadas ao momento e ao perfil de cada artista, sem depender da inserção em playlists editoriais ou da viralização espontânea nas redes sociais.

Testes com blockchain e propostas de interação direta
Desde 2023, a Algohits também vem testando o uso de tecnologias de descentralização, como blockchain e NFTs, voltadas à criação de experiências digitais exclusivas. Um dos primeiros projetos envolveu a banda mineira Devise, em uma iniciativa que permitia a compra de NFTs em reais, sem necessidade de carteiras digitais ou criptomoedas. A proposta era simplificar o acesso do público à Web3, apontada como tendência para o futuro da internet.
Entre as funcionalidades em estudo estão experiências gamificadas, meet & greets virtuais com propriedade digital fracionada, e uma DAO (organização autônoma descentralizada) que permitiria aos fãs participar de decisões sobre lançamentos, produtos e shows. De acordo com Bekerman, parte dessas iniciativas poderá ser relançada à medida que o mercado mostrar maior maturidade para esse tipo de recurso.
Espaço físico voltado à criação e troca
Apesar da força das estratégias digitais, o contato presencial continua sendo parte fundamental do desenvolvimento artístico, e não pode ser deixado de lado. É por isso que, além das soluções digitais, a sede da Algohits funciona como um ambiente de criação artística e de produção integrada.
Localizada em São Paulo, a casa reúne estúdios de gravação, salas de ensaio, estrutura audiovisual e equipes de marketing. O espaço abriga residências criativas e também recebe bandas em diferentes fases de desenvolvimento.
De acordo com Bekerman, o modelo busca estimular a troca entre artistas e equipes de produção.
“É comum termos uma banda ensaiando enquanto outra faz um photoshoot para uma nova coleção de merch, e uma terceira está em reunião de lançamento. Esse convívio criativo é o motor da Algohits”, diz.
A empresa planeja levar esse modelo para outras cidades, como Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre, por meio de ações itinerantes.
Merch como parte da estratégia artística

Outra frente de atuação da Algohits está no desenvolvimento de coleções de merchandising em parceria com artistas da cena independente. A empresa já colaborou com nomes como Cynthia Luz, Dead Fish e Pense, promovendo peças com curadoria artística e foco na conexão com o público.
A produção é feita com fornecedores que utilizam algodão de reflorestamento e rejeitam práticas de trabalho análogo à escravidão. Segundo Bekerman, esse cuidado faz parte da política interna da empresa e não se trata apenas de uma estratégia de comunicação. Os produtos também têm papel relevante na geração de receita para os artistas.
Nos próximos meses, a Algohits pretende lançar uma marca própria de lifestyle urbano, com coleções limitadas, perfumes e colaborações com artistas visuais. Os lançamentos serão feitos conforme a empresa identificar oportunidades dentro do mercado independente.
Cruzamento entre dados e percepção artística

As campanhas criadas pela Algohits combinam inteligência algorítmica com a percepção dos próprios artistas. Além dos dados de performance, a empresa considera informações obtidas em reuniões, trocas presenciais e experiências anteriores.
“A escuta ativa é feita no contato direto com quem cria. Os artistas conhecem o público deles como ninguém. Nossa função é traduzir isso em estratégia e resultado”, afirma Bekerman.
Com esse modelo, a Algohits tenta ocupar um espaço entre o suporte técnico e a liberdade criativa, oferecendo ferramentas para que músicos independentes desenvolvam suas carreiras de forma mais estruturada, mas sem abrir mão da autenticidade. Para a empresa, o desafio está menos em competir por atenção e mais em construir relevância dentro de comunidades engajadas.
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