Algohits investe em blockchain, merch e expansão territorial para fortalecer o mercado independente

Startup Algohits completa dois anos apostando em tecnologia e estratégias diretas com o público para ampliar a autonomia artística na música independente.
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Nathália Pandeló
Banda Pense no estúdio da Algohits
Banda Pense no estúdio da Algohits (Crédito: Divulgação)

Nos últimos anos, startups e projetos independentes passaram a ocupar um espaço estratégico entre os gargalos da recomendação algorítmica e a busca por autonomia artística. A Algohits é uma dessas iniciativas que tenta reorganizar a relação entre artistas e público, não pela lógica da viralização, mas por meio de campanhas personalizadas baseadas em dados reais de engajamento.

A proposta é atuar fora da lógica de ranqueamento dos grandes players de streaming, priorizando o engajamento real com nichos de audiência e a construção de trajetórias autorais. Com isso, a Algohits tem chamado atenção por oferecer um modelo baseado na leitura de comportamento e na escuta ativa dos próprios criadores.

Inteligência algorítmica com foco em campanhas

Ao contrário das plataformas que utilizam algoritmos para sugerir músicas a partir de tendências gerais de consumo, a Algohits desenvolveu sistemas próprios voltados à performance de campanhas publicitárias. A leitura é feita com base em parâmetros musicais (como “mood”, “peso” e “dançabilidade”) cruzados com dados de interação concreta (como cliques em pré-saves, vendas de merchandising e navegação em páginas de artistas).

Segundo o CEO e fundador Moises Bekerman, o foco está em criar conexões com ouvintes que já demonstram interesse em universos musicais semelhantes. 

“Enquanto os gigantes do streaming buscam padronizar gostos, a gente trabalha para encontrar o público certo para a verdade artística de cada banda. Não queremos criar tendências — queremos amplificar vozes”, afirma.

Esse modelo permite que as campanhas sejam mais direcionadas, com estratégias ajustadas ao momento e ao perfil de cada artista, sem depender da inserção em playlists editoriais ou da viralização espontânea nas redes sociais.

Moisés Bekerman, CEO e fundador da Algohits
Moisés Bekerman, CEO e fundador da Algohits

Testes com blockchain e propostas de interação direta

Desde 2023, a Algohits também vem testando o uso de tecnologias de descentralização, como blockchain e NFTs, voltadas à criação de experiências digitais exclusivas. Um dos primeiros projetos envolveu a banda mineira Devise, em uma iniciativa que permitia a compra de NFTs em reais, sem necessidade de carteiras digitais ou criptomoedas. A proposta era simplificar o acesso do público à Web3, apontada como tendência para o futuro da internet.

Entre as funcionalidades em estudo estão experiências gamificadas, meet & greets virtuais com propriedade digital fracionada, e uma DAO (organização autônoma descentralizada) que permitiria aos fãs participar de decisões sobre lançamentos, produtos e shows. De acordo com Bekerman, parte dessas iniciativas poderá ser relançada à medida que o mercado mostrar maior maturidade para esse tipo de recurso.

Espaço físico voltado à criação e troca

Apesar da força das estratégias digitais, o contato presencial continua sendo parte fundamental do desenvolvimento artístico, e não pode ser deixado de lado. É por isso que, além das soluções digitais, a sede da Algohits funciona como um ambiente de criação artística e de produção integrada. 

Localizada em São Paulo, a casa reúne estúdios de gravação, salas de ensaio, estrutura audiovisual e equipes de marketing. O espaço abriga residências criativas e também recebe bandas em diferentes fases de desenvolvimento.

De acordo com Bekerman, o modelo busca estimular a troca entre artistas e equipes de produção. 

“É comum termos uma banda ensaiando enquanto outra faz um photoshoot para uma nova coleção de merch, e uma terceira está em reunião de lançamento. Esse convívio criativo é o motor da Algohits”, diz. 

A empresa planeja levar esse modelo para outras cidades, como Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre, por meio de ações itinerantes.

Merch como parte da estratégia artística

Judá Ramos, da Pense, usando uma camiseta da banda desenvolvida pela Algohits - Crédito @pirukaphotos
Judá Ramos, da Pense, usando uma camiseta da banda desenvolvida pela Algohits (Crédito: @pirukaphotos)

Outra frente de atuação da Algohits está no desenvolvimento de coleções de merchandising em parceria com artistas da cena independente. A empresa já colaborou com nomes como Cynthia Luz, Dead Fish e Pense, promovendo peças com curadoria artística e foco na conexão com o público.

A produção é feita com fornecedores que utilizam algodão de reflorestamento e rejeitam práticas de trabalho análogo à escravidão. Segundo Bekerman, esse cuidado faz parte da política interna da empresa e não se trata apenas de uma estratégia de comunicação. Os produtos também têm papel relevante na geração de receita para os artistas.

Nos próximos meses, a Algohits pretende lançar uma marca própria de lifestyle urbano, com coleções limitadas, perfumes e colaborações com artistas visuais. Os lançamentos serão feitos conforme a empresa identificar oportunidades dentro do mercado independente.

Cruzamento entre dados e percepção artística

Exemplo de dashboard da Algohits - Gráfico moderno ou visual de painel interativo com elementos de analytics (cliques, mapa de calor, dados de campanha), com estética visual clean e tech
Exemplo de dashboard da Algohits – Gráfico moderno ou visual de painel interativo com elementos de analytics (cliques, mapa de calor, dados de campanha), com estética visual clean e tech (Crédito: Reprodução)

As campanhas criadas pela Algohits combinam inteligência algorítmica com a percepção dos próprios artistas. Além dos dados de performance, a empresa considera informações obtidas em reuniões, trocas presenciais e experiências anteriores. 

“A escuta ativa é feita no contato direto com quem cria. Os artistas conhecem o público deles como ninguém. Nossa função é traduzir isso em estratégia e resultado”, afirma Bekerman.

Com esse modelo, a Algohits tenta ocupar um espaço entre o suporte técnico e a liberdade criativa, oferecendo ferramentas para que músicos independentes desenvolvam suas carreiras de forma mais estruturada, mas sem abrir mão da autenticidade. Para a empresa, o desafio está menos em competir por atenção e mais em construir relevância dentro de comunidades engajadas.

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