Desde 2020, o Brasil vive um momento de transformação no consumo de música. E um dos grandes exemplos disso vem de fora do país. O Afrobeats registrou crescimento de 500% no número de streams em território brasileiro nesse período, segundo dados do Spotify. Na América Latina, o gênero avançou mais de 180% ano a ano, o que mostra como artistas africanos conquistaram espaço nas playlists da região.
Por aqui, o Afrobeats apresenta índices de crescimento expressivos. Desde 2020, Argentina e México registraram aumento de mais de 400% nas audições. A Colômbia, por sua vez, já ultrapassou a marca de 25 milhões de horas ouvidas apenas em 2025 e se tornou um dos principais consumidores do estilo na região.
O Brasil acompanha esse cenário com destaque. O salto de 500% em streams mostra que há uma base de ouvintes cada vez mais consistente e engajada. Esses números mostram que o público brasileiro passou a integrar o movimento continental. O resultado é a abertura para novas conexões artísticas e a consolidação do país como um dos territórios mais receptivos ao gênero.
Esse cenário não acontece por acaso. Há afinidades rítmicas entre o Afrobeats e diversos estilos populares latino-americanos. No Brasil, a força percussiva do samba e do funk se conecta naturalmente com a cadência africana. Já na Colômbia, a champeta e a cumbia compartilham raízes similares. Esses pontos de contato ajudam a explicar por que o público da região tem abraçado o gênero com tanto entusiasmo.
O papel do Brasil nesse movimento
No mercado brasileiro, o Afrobeats ainda não ocupa as primeiras posições das paradas, mas o salto de escuta indica que há um público em rápida expansão. Festivais e casas noturnas em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já incluem DJs especializados no estilo em suas programações, o que amplia a circulação do gênero.
Artistas nacionais também começam a experimentar fusões. O álbum Afrodhit, lançado por IZA em 2023, trouxe a nigeriana Tiwa Savage como convidada e explorou sonoridades africanas atuais. Embora não seja um trabalho de Afrobeats puro, ele mostra como o Brasil já participa dessa conversa global. A tendência é que mais artistas sigam esse caminho e incorporem elementos do gênero em suas produções.
Colaborações que abrem caminhos
A expansão do Afrobeats não se restringe ao streaming. Ela se fortalece por meio de colaborações entre artistas africanos e latinos. O remix de “Soso”, de Omah Lay, com Ozuna, é um exemplo dessa ponte: uniu a intensidade do nigeriano ao reggaetón do porto-riquenho. Já Rauw Alejandro convidou Ayra Starr para a faixa “Santana”, que ultrapassou 300 milhões de streams e rendeu à cantora a primeira certificação Latin Diamond conquistada por uma artista africana.
Na Colômbia, Beéle e Kapo se tornaram referências ao combinar Afrobeats com gêneros locais, abrindo caminho para uma sonoridade híbrida que já chega às paradas internacionais.
No Brasil, ainda são raras as colaborações diretas com nomes africanos, mas o potencial de troca é evidente e deve se ampliar nos próximos anos. Prova disso foi a recente colaboração de Ludmilla com Asake, o que acabou trazendo o nigeriano ao Rio de Janeiro para gravar o clipe.
Uma cena em formação
O futuro do Afrobeats no Brasil e na América Latina depende de como essa troca cultural continuará a se desenvolver. Para além do consumo, há espaço para artistas locais criarem suas próprias versões do gênero, conectando as batidas africanas com línguas, histórias e referências da região. Isso garantiria uma apropriação mais orgânica, capaz de sustentar o crescimento e gerar novidades para o mercado.
O movimento também desafia a lógica tradicional da indústria musical, que costuma girar em torno de eixos como Estados Unidos e Europa. A conexão direta entre África e América Latina mostra que o futuro da música global passa por novas rotas culturais, onde diálogos históricos se renovam em forma de som.

Um futuro conectado
A audiência quintuplicada do Afrobeats no Brasil coloca o país entre os principais territórios de expansão desse som para fora da África. Somado ao crescimento consistente em países vizinhos, o gênero prova que se tornou parte da rotina musical de milhões de ouvintes latino-americanos.
Mais do que um fenômeno passageiro, o Afrobeats aponta para uma cena em formação, marcada por fusões, colaborações e apropriações locais. É um caminho que valoriza a ancestralidade rítmica compartilhada e abre espaço para novas expressões culturais. O resultado é uma música que dialoga com o passado, mas projeta um futuro cada vez mais global.
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