No dia 26 de setembro é celebrado o Dia do Surdo, uma data que reforça a importância de discutir acessibilidade em diferentes áreas da sociedade. Na música, esse debate vem crescendo com força, tanto no palco quanto nos bastidores.
Hoje, muitos festivais e shows já contam com intérpretes de Libras. Essa prática se tornou comum em grandes eventos, ajudando a garantir que parte do público consiga acompanhar letras e interações ao vivo.
No entanto, especialistas e artistas lembram que acessibilidade não pode se limitar a momentos pontuais. A inclusão sonora vai além da presença em shows e envolve a forma como as músicas são produzidas, distribuídas e vividas no dia a dia.
Legendas e intérpretes no palco
Eventos que vão de teatros municipais ao Rock in Rio já oferecem intérpretes de Libras em diversos palcos, um avanço importante na inclusão do público surdo. Artistas internacionais também aderem a práticas semelhantes: Billie Eilish já disponibilizou legendas em tempo real em turnês, permitindo acompanhar as letras durante as apresentações.
Essas soluções são um primeiro passo, mas também podem ser incorporadas em conteúdos digitais. Clipes e lives legendados ampliam o acesso de pessoas com deficiência auditiva e também de quem acompanha em outros idiomas.
O que já pode ser feito:
- Incluir legendas automáticas em clipes e vídeos postados no YouTube, TikTok ou Instagram.
- Contratar intérpretes de Libras para apresentações presenciais e transmissões ao vivo.
- Disponibilizar a letra completa das músicas em sites, encartes digitais ou materiais de divulgação.
Ver o som através da imagem
Visualizações sonoras têm ganhado espaço em experiências educativas e artísticas. Ferramentas como o Chrome Music Lab já foram usadas em oficinas para crianças surdas, permitindo que elas enxerguem as ondas sonoras transformadas em cores e formas.
Na música eletrônica, projeções que traduzem frequências em luz e movimento se tornaram parte da estética de shows. Além de efeito visual, essa prática ajuda a tornar a experiência mais inclusiva.
O que já pode ser feito:
- Utilizar softwares gratuitos de espectrograma para mostrar sons em oficinas ou projetos educativos.
- Incorporar projeções gráficas em shows, mesmo em escala reduzida, para oferecer uma experiência visual.
- Explorar videoclipes que traduzam elementos rítmicos em cores e imagens sincronizadas.
Escuta assistiva em casas de espetáculo

Alguns espaços já estão preparados com sistemas que melhoram a recepção sonora para pessoas com perda auditiva. O Carnegie Hall, em Nova York, e a Ópera de Sydney adotaram laços magnéticos, que enviam o som diretamente para aparelhos auditivos compatíveis.
No Brasil, há teatros municipais que oferecem sistemas semelhantes, ainda que de forma restrita. Quando disponíveis, esses recursos permitem que mais pessoas acompanhem a performance em igualdade de condições.
O que já pode ser feito:
- Ao negociar apresentações, verificar se a casa oferece sistemas de escuta assistiva.
- Sugerir que produtores e gestores de espaços culturais busquem esse tipo de recurso.
- Comunicar ao público, em materiais de divulgação, quando houver recursos disponíveis.
Produção musical e acessibilidade
A inclusão também passa pelo processo criativo. O produtor Jason Dasent, de Trinidad e Tobago, que é cego, colaborou com a Audio Modeling para adaptar softwares ao uso com leitores de tela. Essa iniciativa abriu caminho para que músicos com deficiência visual tenham autonomia na produção.
O Reaper, por sua vez, reúne uma comunidade ativa que mantém recursos acessíveis para usuários cegos. Hoje, é possível gravar, editar e mixar músicas completas nesse DAW, sem depender de interfaces exclusivas ou caras.
O que já pode ser feito:
- Escolher softwares de produção que já tenham recursos acessíveis, como o Reaper.
- Criar tutoriais em vídeo ou áudio com descrições detalhadas para compartilhar conhecimento.
- Incluir parceiros ou colaboradores cegos em projetos de gravação, ampliando a rede de troca e aprendizado.
Sentir a música no corpo
Inovações multisensoriais começam a chegar ao mercado. A SoundShirt, criado pela empresa CuteCircuit, transforma sons em vibrações distribuídas pelo corpo. A tecnologia já foi usada na Ópera Lírica de Chicago e em shows menores na Europa, permitindo que pessoas surdas experimentem a música de forma tátil.
No Brasil, festivais como o Lollapalooza também já adotaram a mochila sensorial, conhecida como colete sensitivo ou mochila vibratória. O equipamento converte sons em vibrações e transmite essas frequências para diferentes partes do corpo, criando uma experiência física e emocional. O recurso tem múltiplos pontos de contato que captam o som em tempo real e o transformam em estímulos sincronizados com os instrumentos e a voz.
Essas iniciativas mostram como a música pode ser vivida além da audição. Embora ainda sejam tecnologias de custo elevado, apontam para um futuro em que experiências imersivas e com acessibilidade garantida façam parte de forma mais constante do mercado cultural.
O que já pode ser feito:
- Buscar parcerias com festivais ou empresas que oferecem mochilas sensoriais para experiências piloto.
- Incluir elementos táteis em shows, como vibrações sincronizadas em plataformas ou pisos.
- Promover oficinas ou mostras que apresentem a tecnologia ao público de forma experimental.
Novos padrões em desenvolvimento
Grandes empresas de software também começam a se mover. O Ableton Live 12 trouxe melhorias de acessibilidade, como maior controle por teclado e navegação simplificada para deficientes visuais. A MIDI Manufacturers Association trabalha no Music Accessibility Standard, que busca tornar interfaces musicais mais inclusivas desde a sua concepção.
O que já pode ser feito:
- Atualizar softwares de produção para versões mais recentes, que trazem recursos acessíveis.
- Apoiar iniciativas que discutam padronização de acessibilidade em música.
- Incorporar a preocupação com inclusão sonora em contratos de produção e divulgação.
Esses avanços apontam que a inclusão não deve depender apenas de ações isoladas. A acessibilidade precisa estar presente em todo o ciclo, da composição e gravação aos palcos e plataformas digitais. Mais do que cumprir protocolos, trata-se de garantir que a música seja realmente para todos.
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