a e os impactos mais visíveis da inteligência artificial, da volatilidade dos hits e das mudanças nos mecanismos de descoberta das plataformas. Um recorte que ajuda a entender por que nem sempre grandes números de streaming se convertem em público real e como cenas específicas seguem se fortalecendo mesmo fora dos holofotes dos charts globais.
O entrevistado da vez é Ian Bueno, Diretor de Operações da Symphonic Brasil. Com mais de 11 anos de atuação na indústria musical e do entretenimento, Ian foi responsável por iniciar as operações da distribuidora americana no Brasil em 2021 e segue à frente da estratégia local da empresa, com forte presença na cena de música urbana independente.
Além da atuação executiva, ele também trabalha como produtor executivo, produtor musical, compositor e baterista, e comanda a label Canil Records, mantendo vínculo direto com o rock e o metal.
Balanço 2025 com Ian Bueno, Diretor de Operações da Symphonic Brasil
Mundo da Música: Quando você olha para 2025 como um todo, quais números melhor resumem o desempenho do mercado de música no Brasil este ano? Pode incluir receita, consumo, catálogo, shows, marketing ou qualquer indicador que tenha sido decisivo, na sua visão.
Ian Bueno: Para ter um balanço completo de 2025, é necessário aguardar o pagamento das receitas advindas do último quarter, e isso só vai acontecer no Q1 de 2026. Mas com base no que temos visto até agora, pelo menos aqui na Symphonic, alguns pontos me chamaram a atenção:
A volatilidade dos hits: Músicas virais estão tendo seu lifetime cada vez mais encurtado, tivemos um número menor de grandes hits no ano justamente por isso. Está cada vez mais difícil sustentar uma campanha de promoção em uma música por muito tempo, ainda mais com o crescimento no volume de lançamentos por conta da facilidade de se criar música usando IA.
A cena do Trap BR como um todo teve um ano bem abaixo dos últimos 3 anos onde estiveram no maior momento de destaque. Por outro lado, estamos observando novamente a ascensão e força do Funk de São Paulo e em paralelo novas cenas se consolidando na cena independente, como a nova era do Boom Bap e o Funk Hall (vertente que mistura o Funk com o Dancehall Jamaicano).
As playlists editoriais das plataformas não possuem mais o mesmo peso de antes com relação ao impacto de streams. Claro que ainda fazem diferença, principalmente se for uma playlist prioridade da plataforma, mas em geral temos visto que ferramentas internas utilizando o algoritmo tem tido resultados muito mais positivos, no caso do Spotify: Release Radar, Radio, Discovery Mode e etc.
Mundo da Música: E olhando para dentro da sua empresa, quais métricas vocês usam como termômetro de crescimento? Quais indicadores mostram que 2025 foi (ou não foi) um ano de expansão?
Ian: Nossas métricas são em cima de receita, principalmente, e em volume de streams. Ainda é cedo para fechar o balanço final, mas estamos felizes em ver mais um ano de crescimento constante (tanto em receita quanto em streams) e uma maior diversificação de receita vinda de clientes novos ou que começaram a desenvolver nos últimos meses.
Mundo da Música: Quais áreas da operação cresceram mais em 2025 e quais ficaram estáveis ou em queda? Que leitura esses movimentos geram sobre o momento do mercado?
Ian: Sem dúvidas nosso trabalho no funk de São Paulo teve o maior impacto em receita, o funk de BH se estabilizou após um 2024 muito forte e o trap de maneira geral perdeu muita força.

Mundo da Música: Como evoluiu o consumo de música no Brasil em 2025 na sua perspectiva? O que mudou nos números de streams, catálogo, repertório local, superfãs, descoberta ou formatos?
Ian: A volatilidade dos hits, como mencionei, me chamou muito a atenção. A presença de músicas feitas por IA nos top charts também foi algo que surpreendeu. Acredito que tivemos o primeiro ano de impacto real dessa nova era na indústria e tem muito mais por vir, o recente acordo da Warner com a SUNO é uma prova disso… Os videoclipes têm perdido espaço para os vídeos curtos / visualizers, mas ainda há artistas que conseguem desempenhar bem no formato de videoclipe tradicional utilizando uma forte estratégia de posicionamento de marca.
Mundo da Música: Há algum dado interno de comportamento do público em 2025 que você acredita ser relevante para o mercado conhecer? Algo que tenha alterado decisões ou estratégias, por exemplo.
Ian: Ainda não tenho dados para comprovar isso, mas minha percepção é que o público de maneira geral está cada vez menos apegado em quem é o artista e qual é a sua história e focado muito mais na música em si… Muitas vezes sabem cantar a música toda, mas se encontrarem o artista na rua, não vão nem saber quem é.
Mundo da Música: O ano teve desafios importantes. Quais números deixaram evidente que o setor precisou ajustar expectativas ou revisar projeções?
Ian: Os desafios com copyright na era da IA e o volume de novos produtos no mercado são questões que precisamos analisar e estudar com calma pois estão deixando o jogo que já era difícil, muito mais difícil.
Mundo da Música: Falando em artistas, que tipo de crescimento vocês observaram no desempenho de lançamentos, marketing, turnês ou retenção de público em 2025? Há métricas concretas que ilustram essa evolução?
Ian: Temos percebido cada vez mais que o hit na praça não significa conversão em público real na hora do show. Por outro lado, artistas que focam em um nicho e se desenvolvem nele, por mais que não tenham os maiores números de streams, muitas vezes são os que conseguem movimentar uma turnê de maneira independente com sucesso.
Mundo da Música: Se você tivesse que escolher um único indicador que mostra onde a indústria brasileira está indo, qual seria? E como esse número evoluiu em 2025?
Ian: Bom, falando de um case interno, recentemente tivemos a primeira música em português entrando no Top 10 global do Spotify. A faixa “Posso Até Não te dar Flores”, lançamento da Bololo Records, selo musical do MC Ryan SP. Isso demonstra que o mundo está cada vez mais aberto para a música brasileira e acredito que a Copa de 2026 pode ser um momento muito estratégico para o fortalecimento disso.
Mundo da Música: Que oportunidade de 2025 apareceu de forma mais clara quando vocês analisaram os dados internos? Pode ser um comportamento, um formato, um tipo de artista ou uma dinâmica de mercado.
Ian: Falando de música urbana, os artistas que remaram contra a maré do trap e acreditaram em fazer música de maneira mais autêntica e única acabaram se destacando durante o ano. Isso demonstra que muitas vezes é uma questão de continuar trabalhando e persistindo ao invés de mudar a direção apenas para seguir o mercado, a verdade artística ainda prevalece.
Mundo da Música: Para 2026, quais projeções numéricas vocês já conseguem antecipar? Não precisam ser números exatos, mas tendências ou estimativas que indiquem o que esperar do próximo ciclo.
Ian: A consolidação de novos sub-nichos dentro da cena urbana, e expansão do funk brasileiro de maneira global e um constante desafio entre lidar de maneira saudável com os adventos da IA.
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