A ORCA (Organização das Artes e Cultura Gravadas, na sigla em inglês) acaba de lançar um novo relatório que coloca números concretos no debate sobre o papel dos selos independentes na indústria da música. O estudo, intitulado “The Economic and Social Impact of Independent Record Labels”, analisa dados financeiros, operacionais e sociais de nove selos associados à organização.
Os resultados mostram um ecossistema que vai além da percepção tradicional de nicho. Segundo a ORCA, os selos analisados investiram juntos US$ 134 milhões (cerca de R$ 726 milhões) e geraram uma receita total de US$ 239 milhões (R$ 1,2 bilhão). Mais do que apresentar volumes financeiros, o relatório busca explicar como esses recursos são distribuídos, quais retornos aparecem para os artistas e como esse modelo influencia a estrutura de trabalho e a diversidade no setor.
O levantamento foi encomendado pela ORCA e elaborado pelo Center For Music Ecosystems, com base em dados primários de nove selos independentes localizados principalmente nos Estados Unidos e na Europa, com atuação internacional e catálogos distribuídos globalmente. O grupo analisado reúne empresas que operam em diferentes mercados e gêneros musicais, o que permite observar padrões econômicos e sociais do modelo independente em escala global, ainda que não represente a totalidade do setor.
Investimentos ao longo da cadeia da música gravada
De acordo com o estudo da ORCA, os US$ 134 milhões foram direcionados a cinco áreas centrais da cadeia de valor da música gravada: relações com artistas, desenvolvimento criativo e produção, marketing e visibilidade, turnês e infraestrutura organizacional. Em média, cada artista apoiado recebeu o equivalente a US$ 236.197 em investimento, valor que inclui custos de equipe e despesas gerais dos selos.
A maior parcela dos recursos foi destinada à infraestrutura e à capacidade organizacional, somando US$ 62,9 milhões, ou 46,8% do total. Marketing, distribuição e visibilidade ficaram logo atrás, com US$ 48,9 milhões, o equivalente a 36,4%. Já o desenvolvimento criativo e a produção receberam US$ 12,9 milhões, enquanto relações com artistas e apoio estratégico concentraram US$ 9,1 milhões.
Esse desenho ajuda a entender por que os selos independentes operam com uma lógica diferente da de curto prazo. Parte relevante do investimento não está atrelada a um lançamento específico, mas à construção de estruturas que sustentam carreiras ao longo do tempo.

Receita, retorno financeiro e divisão com artistas
No campo das receitas, os nove selos analisados pela ORCA somaram US$ 239 milhões. Para cada dólar investido, o retorno bruto foi de US$ 1,77 em receita, indicando um modelo financeiramente sustentável.
Do total arrecadado, 33,5%, o equivalente a US$ 79,9 milhões, foram pagos diretamente aos artistas. Após a cobertura dos custos operacionais, o lucro líquido foi de US$ 0,77 por dólar investido. Deste valor, cerca de 77%, ou US$ 0,59, retornaram aos artistas, enquanto 23%, aproximadamente US$ 0,18, ficaram com os selos.
Essa divisão ajuda a explicar por que o relatório descreve os selos independentes como estruturas centradas no artista. O sucesso financeiro não fica concentrado apenas na empresa, mas é compartilhado de forma direta com quem cria a música.
Diversificação de receitas além do streaming
O relatório da ORCA também detalha a origem dessas receitas. O streaming representa a maior fatia, com 59,5% do total. Em seguida aparecem as vendas físicas, responsáveis por 25,9%, percentual bem acima da média global do setor fonográfico.
Outro destaque é o licenciamento para sincronização, que responde por 7,4% da receita. Esse índice supera com folga a média global e aponta para o uso estratégico de músicas em filmes, séries, publicidade e games, tanto como fonte de renda quanto como ferramenta de divulgação.
A combinação dessas frentes mostra que os selos analisados não dependem exclusivamente do streaming para sustentar seus resultados, reduzindo riscos e criando estratégias mais equilibradas para seus catálogos.

Desenvolvimento de carreira, trabalho e inclusão
Os impactos do investimento também aparecem no desenvolvimento de carreira. Os artistas apoiados pelos selos participantes registraram um crescimento médio de 44% no número de seguidores no Spotify entre o início do período analisado e a medição mais recente, indicando efeitos acumulados do trabalho de longo prazo em um ambiente cada vez mais competitivo.
No âmbito interno, 83% dos profissionais dos selos são funcionários formais com acesso a benefícios. Mais da metade recebeu treinamento específico para suas funções, e 54% tiveram apoio voltado ao bem-estar e à saúde mental.
A presença feminina se destaca tanto nas equipes quanto nos catálogos. As mulheres representam 31,5% dos cargos executivos e quase metade do total de funcionários. Entre os artistas, as mulheres estiveram presentes em 41,8% dos projetos, somando carreiras solo, grupos e colaborações mistas.
“Pela primeira vez, temos números reais que mostram o poder econômico dos selos independentes e os benefícios que esse modelo entrega aos artistas”, afirmou Patrick Clifton, diretor executivo da ORCA.
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