OpenAI está desenvolvendo ferramenta de IA generativa voltada para música

Empresa avaliada em US$ 500 bilhões, a OpenAI prepara entrada no mercado de criação musical por inteligência artificial, em meio a disputas por direitos autorais.
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Nathália Pandeló
OpenAI logo
Logo da OpenAI (Crédito: Andrew Neel)

A OpenAI, criadora do ChatGPT e da ferramenta de vídeos Sora, prepara seu movimento mais recente rumo à indústria da música. Segundo o site The Information, a empresa, avaliada em US$ 500 bilhões, está desenvolvendo um gerador de música por inteligência artificial capaz de criar composições a partir de texto ou de prompts de áudio. O projeto coloca a companhia em um território competitivo, hoje dominado por startups como Suno e Udio, que enfrentam processos das grandes gravadoras por uso não autorizado de obras em seus treinamentos.

O novo sistema estaria sendo desenvolvido em parceria com estudantes da Juilliard School, em Nova York. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, os alunos estão anotando partituras para fornecer dados de treinamento ao modelo. Essa colaboração indicaria que a OpenAI busca ampliar a precisão musical de sua ferramenta, embora ainda não haja detalhes sobre o formato final do produto, nem se ele será integrado ao ChatGPT ou lançado como software independente.

O que se sabe sobre a ferramenta

Até o momento, as informações disponíveis apontam que o sistema da OpenAI poderá gerar trilhas sonoras para vídeos ou acompanhar vocalizações humanas com instrumentais produzidos por IA. Não está claro, porém, se ele será capaz de compor músicas completas apenas a partir de um comando de texto, como fazem Suno e Udio.

A empresa não divulgou quando pretende lançar o produto nem de que maneira está obtendo o repertório de dados musicais usado no treinamento do modelo. Essa é uma questão sensível para a OpenAI, que enfrenta uma série de ações judiciais desde o lançamento do ChatGPT em 2022. Entre os processos em andamento estão ações movidas pelo New York Times, pela Authors Guild e pela organização alemã GEMA, que acusa o chatbot de reproduzir letras de músicas protegidas por direitos autorais sem autorização.

Ainda assim, a OpenAI já firmou acordos de licenciamento com alguns detentores de direitos, como a Shutterstock, que inclui em seu portfólio uma biblioteca de áudios utilizada para treinar modelos da empresa.

Histórico de experimentos musicais da OpenAI

PL da Inteligência artificial - IA Music Ally direitos autorais gêneros, Goldman Sachs, OpenAI
Crédito: Freepik

Esta não seria a primeira tentativa da OpenAI no campo da música generativa. Em 2019, a empresa lançou o MuseNet, modelo capaz de combinar estilos de diferentes artistas e compor peças originais. No ano seguinte, apresentou o Jukebox, uma rede neural que gerava músicas com canto rudimentar em vários gêneros e estilos, inclusive imitando vozes de artistas conhecidos como Elvis Presley e Frank Sinatra. O projeto acabou descontinuado, mas serviu de base para os avanços atuais.

Em 2023, o CEO da OpenAI, Sam Altman, reconheceu publicamente os desafios éticos envolvidos na criação de conteúdos musicais com IA. 

“Os criadores merecem controle sobre como suas criações são usadas e o que acontece depois de lançadas ao mundo. Achamos que criadores de conteúdo, donos de conteúdo e pessoas cuja imagem é usada merecem total controle sobre isso e o direito de se beneficiar”, afirmou Altman, em entrevista ao site Music Ally.

A fala, embora bem recebida por parte da indústria, não eliminou as preocupações sobre o uso de material protegido sem autorização. O lançamento do modelo de vídeo Sora, em fevereiro de 2025, reacendeu o debate sobre a possibilidade de a empresa estar treinando suas tecnologias com conteúdo de terceiros sem licenciamento formal.

O contexto do mercado de música com IA

A movimentação da OpenAI ocorre em um momento em que o mercado musical vive uma expansão acelerada de conteúdos gerados por inteligência artificial. Em setembro, o serviço de streaming Deezer revelou que 28% das faixas enviadas à plataforma eram totalmente criadas por IA, um crescimento expressivo em relação aos 18% registrados em abril.

Esse avanço tem alimentado debates sobre a participação das obras automatizadas nas receitas de streaming e o impacto sobre os artistas humanos. Algumas das chamadas “artistas de IA”, personas musicais fictícias cujas canções são produzidas por algoritmos, já acumulam milhões de reproduções no Spotify, o que acende alertas sobre a divisão do “bolo de royalties”.

Enquanto isso, o setor tenta estabelecer regras para a convivência com a tecnologia. O próprio Spotify tem testado iniciativas em colaboração com a OpenAI, como a integração do ChatGPT ao aplicativo e o uso do sistema na curadoria do recurso AI DJ. A plataforma também trabalha com gravadoras e distribuidores para desenvolver ferramentas “responsáveis” de IA musical, priorizando o licenciamento e a remuneração adequada aos titulares.

Desafios e perspectivas

O possível lançamento da ferramenta musical da OpenAI aumenta ainda mais o alcance da empresa em um dos segmentos mais sensíveis do entretenimento. Se o projeto se limitar a funções de apoio criativo, como composição de trilhas ou assistente de arranjos, pode ser bem recebido por músicos e produtores. Mas, se evoluir para a criação de obras completas sem intervenção humana, tende a aprofundar os impasses sobre autoria e direitos.

Para artistas e compositores, a principal preocupação permanece a mesma: garantir controle e remuneração pelo uso de suas obras em treinamentos e resultados de IA. Para a indústria, a entrada da OpenAI representa tanto uma oportunidade de inovação quanto um novo capítulo em uma disputa jurídica e ética que ainda está longe de terminar.

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