O Universal Music Group (UMG) apresentou um novo posicionamento sobre o uso de inteligência artificial na música. Em um memorando interno divulgado entre os funcionários nesta segunda-feira (13), o presidente e CEO Sir Lucian Grainge definiu os princípios que guiarão os acordos da companhia com empresas de IA e a criação de novos produtos baseados em tecnologia generativa. O documento foi obtido e publicado pelo site Music Business Worldwide.
Grainge afirma que a UMG está “desempenhando um papel pioneiro em fomentar o enorme potencial da IA”, mas deixa claro que a empresa não abrirá mão de proteger os direitos de seus artistas.
“Não licenciaremos nenhum modelo que use a voz de um artista ou gere novas canções que incorporem músicas existentes sem o consentimento dele”, escreveu o executivo.
O memorando aborda três eixos principais: o avanço das parcerias com empresas de tecnologia, as formas de participação dos artistas nesses projetos e a defesa de políticas públicas que garantam o uso ético da inteligência artificial.
Parcerias com empresas de tecnologia e novos produtos
Segundo Lucian Grainge, a Universal já firmou acordos com grandes plataformas como YouTube, TikTok e Meta, além de startups como BandLab e SoundLabs. A companhia também anunciou novas colaborações com ProRata e KLAY, voltadas ao desenvolvimento de produtos que ofereçam “atribuição precisa, empoderamento e remuneração aos artistas”.
O executivo destaca ainda o recente acordo da Universal Music Japan com a empresa de telecomunicações KDDI, que pretende criar novas experiências musicais usando IA generativa. Ele também cita a integração do Spotify com o ChatGPT como exemplo de um ecossistema que une descoberta musical e monetização.
Lucian Grainge vê potencial para o surgimento de novas fontes de receita para compositores e intérpretes, especialmente com a evolução do que ele chama de “Agentic AI”, sistemas capazes de raciocínio e adaptação complexos.
“Acredito que a Agentic AI tem o potencial de revolucionar a forma como os fãs interagem e descobrem música”, escreveu.
Participação dos artistas e modelos éticos de IA

Sir Lucian Grainge afirma que a UMG está estruturando equipes dedicadas a discutir com artistas e representantes as oportunidades abertas por essas novas tecnologias. O objetivo, segundo ele, é garantir que qualquer aplicação comercial esteja alinhada a princípios de treinamento responsável de dados.
A política da empresa prevê a rejeição de parcerias com modelos de IA que utilizem material protegido sem autorização.
“Somente consideraremos avançar em produtos baseados em modelos treinados de forma responsável”, afirma Grainge.
Entre as iniciativas voltadas à segurança criativa, a Universal firmou acordo com a SoundPatrol, empresa fundada por cientistas da Universidade de Stanford, que utiliza tecnologia patenteada para evitar o uso não autorizado de obras em geradores de música por IA.
A disputa global por regulação e os riscos da exploração indevida
O CEO também menciona a pressão exercida por grandes companhias de tecnologia sobre governos para legitimar o treinamento de IA com obras protegidas por direitos autorais, sem o consentimento ou remuneração dos titulares. Para Grainge, essas propostas representam “exploração não autorizada e, acreditamos, ilegal das propriedades de artistas criativos”.
Vale lembrar que o Universal Music Group está envolvido em ações judiciais contra empresas como Anthropic, Suno e Udio, acusadas de usar letras e músicas de seu catálogo sem autorização para treinar modelos generativos.
O memorando também lembra que, desde 2023, a companhia tem adotado princípios “artist-centric” (ou seja, centrados no artista) para combater o que Grainge chamou de “poluição das plataformas”, termo usado para descrever o excesso de conteúdos gerados artificialmente que desviam receitas e dificultam a remuneração justa de criadores humanos.
Caminhos para um ecossistema sustentável de IA, segundo Lucian Grainge
Grainge encerra o comunicado afirmando que a Universal continuará liderando o debate sobre inovação responsável.
“Estamos confiantes de que, ao demonstrar nossa disposição como comunidade em abraçar modelos comerciais de IA que valorizam e aprimoram a arte humana, mostramos que soluções de mercado que promovem a inovação são o caminho”, escreveu.
O executivo reforça que a tecnologia pode ampliar as conexões entre artistas e fãs, desde que utilizada com transparência e respeito aos direitos autorais.
“Estou muito animado com os produtos que estamos vendo e com o que o futuro nos reserva”, conclui.
Confira na íntegra o memorando de Sir Lucian Grainge
Prezados colegas,
Escrevo hoje para atualizar vocês sobre o progresso que estamos fazendo em nossos esforços para aproveitar as oportunidades comerciais apresentadas pela tecnologia de IA generativa em benefício de todos os nossos artistas e compositores.
Quero abordar três tópicos específicos: acordos responsáveis com empresas e produtos de IA generativa; como nossos artistas podem participar; e o que estamos fazendo para incentivar políticas públicas responsáveis de IA.
A UMG está desempenhando um papel pioneiro em fomentar o enorme potencial da IA. Embora nosso progresso seja significativo, a velocidade com que essa tecnologia se desenvolve torna importante que todos estejam continuamente atualizados sobre nossos esforços e bem informados sobre nossa estratégia e abordagem.
A base do que fazemos é a crença de que, juntos, podemos promover um ecossistema comercial saudável de IA, no qual artistas, compositores, empresas de música e empresas de tecnologia possam prosperar.
Novos acordos
Para explorar as oportunidades e determinar as melhores abordagens, temos trabalhado com desenvolvedores de IA para testar suas ideias. Fomos a primeira empresa a firmar acordos relacionados à IA com companhias que vão desde grandes plataformas como YouTube, TikTok e Meta até empreendedores emergentes como BandLab e Soundlabs.
Recentemente, a Universal Music Japan anunciou um acordo com a KDDI, uma das principais empresas de telecomunicações do Japão, para desenvolver novas experiências musicais para fãs e artistas usando IA generativa. Estamos muito engajados com quase uma dúzia de empresas em novos produtos e planos de serviço que prometem expandir o cenário da música com IA.
Participação dos artistas
Podemos afirmar que a IA tem o potencial de oferecer ferramentas criativas que nos permitirão conectar nossos artistas aos fãs de novas maneiras e em uma escala sem precedentes.
Acredito que a Agentic AI, que utiliza raciocínio complexo e adaptação dinâmica, pode revolucionar a forma como os fãs interagem com a música.
Somente consideraremos avançar em produtos baseados em modelos treinados de maneira responsável. Entramos em acordos com desenvolvedores de IA como ProRata e KLAY e estamos em conversas com outras empresas cujos produtos garantem atribuição e compensação justas aos artistas.
E, para deixar claro — e isso é muito importante — não licenciaremos nenhum modelo que use a voz de um artista ou gere novas músicas que incorporem canções existentes sem o consentimento dele.
Políticas públicas responsáveis
Estamos cientes de que grandes empresas de IA pressionam governos para legitimar o treinamento de tecnologia com material protegido por direitos autorais sem consentimento ou compensação. Essas propostas representam nada mais do que exploração não autorizada e, acreditamos, ilegal das propriedades dos artistas.
Introduzimos em 2023 os princípios “Artist-Centric” para combater a “poluição das plataformas”. Desde então, muitos de nossos parceiros têm adotado medidas contra o desvio de royalties, infração e fraude.
Recentemente, anunciamos um acordo com a SoundPatrol, empresa liderada por cientistas de Stanford, que utiliza tecnologia patenteada para proteger o trabalho dos artistas contra o uso indevido em geradores de música por IA.
Estamos confiantes de que, ao abraçar modelos de IA que valorizem e aprimorem a arte humana, demonstramos que soluções de mercado que promovem inovação são o caminho.
Liderando o caminho adiante
Enquanto trabalhamos para garantir salvaguardas aos artistas, ajudaremos a liderar esse caminho, explorando formas inovadoras de usar essa tecnologia revolucionária para criar novas oportunidades comerciais, ao mesmo tempo que protegemos a criatividade humana.
Estou muito animado com os produtos que estamos vendo e com o que o futuro nos reserva.
Lucian Grainge
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