Daniel Ek deixa cargo de CEO do Spotify e assume função de presidente executivo a partir de 2026

Fundador do Spotify, Daniel Ek passa a atuar como presidente executivo enquanto Gustav Söderström e Alex Norström assumem como co-CEOs.
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Nathália Pandeló
Daniel Ek, CEO do Spotify
Daniel Ek, CEO do Spotify. Foto: Divulgação

O Spotify anunciou uma mudança importante em sua liderança global. A partir de 1º de janeiro de 2026, o fundador Daniel Ek deixará o cargo de CEO e assumirá a função de presidente executivo. Os atuais copresidentes, Gustav Söderström (responsável por produto e tecnologia) e Alex Norström (responsável por negócios), passarão a dividir o comando como diretores-executivos (co-CEOs). Eles também integrarão o conselho de administração, sujeito à aprovação dos acionistas.

A empresa explicou que a decisão oficializa um modelo que já vinha sendo praticado desde 2023, quando Söderström e Norström passaram a conduzir boa parte da estratégia e da operação diária da plataforma. No novo papel, Daniel Ek ficará mais focado em decisões de longo prazo, como são aplicados os recursos do Spotify, planejamento estratégico e articulação com órgãos regulatórios.

A visão de Daniel Ek sobre a transição

No comunicado enviado hoje (30) aos funcionários, Daniel Ek destacou a trajetória da companhia desde a fundação em Estocolmo, em 2006. 

“O que parecia uma ideia impossível se tornou um produto usado por quase três quartos de bilhão de pessoas. Ajudamos a remodelar uma indústria que não apenas voltou a crescer, mas atingiu novos patamares”, afirmou.

Daniel Ek também ressaltou a importância de seus sucessores: 

“Nos últimos anos, entreguei grande parte da gestão diária e da direção estratégica a Alex e Gustav, que moldaram a empresa desde os primeiros dias e agora estão mais do que preparados para conduzir a próxima fase. Esta é simplesmente a minha próxima missão. Meu título muda, mas meu compromisso e crença no que estamos construindo não”.

Confiança do conselho e da nova gestão

Woody Marshall, diretor independente líder do conselho, disse que a transição vinha sendo preparada há anos. 

“Temos enorme confiança em Alex e Gustav ao assumirem esses cargos. Cada um tem mais de 15 anos na empresa e foi essencial para o sucesso do Spotify. Estamos igualmente satisfeitos com a permanência ativa de Daniel, garantindo tanto a visão estratégica do fundador quanto a mentoria aos novos co-CEOs”.

Em nota conjunta, Söderström e Norström afirmaram que a missão segue a mesma.

“Quando assumimos como copresidentes, há quase três anos, pedimos aos times foco total em construir a melhor experiência possível, e essa ambição não mudou. Trazemos experiências diferentes, mas temos a mesma disposição para agir, e estamos prontos para começar com o apoio total de Daniel”.

Críticas e controvérsias recentes

Spotify anuncia novidades para criadores de podcasts - Daniel Ek
Daniel Ek fala em evento do Spotify (Crédito: Divulgação)

A mudança ocorre em meio a um período de críticas à figura de Daniel Ek. Nos últimos meses, artistas e usuários se manifestaram contra seus investimentos em setores fora da música, especialmente no campo militar.

Por meio da sua empresa de investimentos Prima Materia, Ek liderou uma rodada de 600 milhões de euros para a startup alemã Helsing, especializada em tecnologias de defesa baseadas em inteligência artificial, como drones e veículos não tripulados. O aporte fez da Helsing uma das companhias mais valiosas do setor na Europa.

O movimento provocou forte reação na comunidade musical e levou à criação da campanha “No Music For Genocide”, que incentivou centenas de artistas a removerem suas músicas do Spotify. Entre os nomes envolvidos no boicote estão Massive Attack, King Gizzard & The Lizard Wizard e Young Widows. Apesar da pressão, Daniel Ek afirmou não temer a saída de artistas da plataforma.

Venda de ações e questionamentos do mercado

Outro ponto que gerou desconfiança foi a venda de ações do Spotify por parte de Daniel Ek e de seu cofundador Martin Lorentzon. Desde o início de 2025, os dois reduziram significativamente suas participações na empresa, levantando mais de US$ 1 bilhão. O montante vem sendo redirecionado para investimentos em outras áreas, como a própria Prima Materia e a startup de saúde com IA Neko Health.

O movimento levantou dúvidas sobre o grau de comprometimento de Ek com a companhia que fundou, especialmente em um momento de pressão sobre o modelo de negócios. Apesar do primeiro ano de lucratividade plena em 2025, o Spotify passa por alguns desafios na área de anúncios, que ainda apresenta resultados abaixo do esperado.

Entre continuidade e incertezas

Enquanto a empresa reforça que a mudança de cargos é uma formalidade, o mercado e a classe artística observam com cautela os próximos passos. A gestão compartilhada entre Söderström e Norström dá sequência a uma prática já consolidada internamente, mas a presença de Daniel Ek segue cercada de controvérsias externas que podem impactar a imagem do serviço de streaming.

Em suas palavras finais no comunicado, Ek agradeceu aos funcionários pelos 20 anos de trajetória:

“Obrigado por acreditarem em tornar ideias impossíveis possíveis e por me concederem o maior privilégio de uma vida. Vamos continuar — mais forte, melhor, mais rápido, mais intenso”.

Confira abaixo a íntegra da cara de Daniel Ek à equipe do Spotify:

Evoluindo a forma como lideramos
30 de setembro de 2025

Time,

No Spotify de hoje, todos os olhos (e ouvidos) estão sobre nós. Não há muito do que fazemos que passa despercebido. Mas nem sempre foi assim. Em um pequeno escritório improvisado na Riddargatan, em Estocolmo, alguns de nós se propuseram a resolver o que parecia uma ideia impossível: tornar todas as músicas disponíveis instantaneamente, legalmente, em um produto que as pessoas amassem. Avançando quase 20 anos depois, essa “ideia impossível” se tornou uma plataforma usada por quase três quartos de bilhão de pessoas ao redor do mundo. Ajudamos a remodelar uma indústria que não apenas voltou a crescer, mas alcançou novos patamares.

Eu não costumo parar para refletir porque olhar para frente sempre foi meu instinto. Mas estou incrivelmente orgulhoso do que criamos juntos — uma experiência de usuário adorada, um negócio que prospera e uma equipe que continua a elevar o padrão. Um enorme crédito vai para Alex e Gustav, que lideraram com habilidade, visão e convicção. Eles se provaram repetidas vezes, e acredito que estão prontos para o que vem a seguir.

Portanto, com total confiança em Gustav e Alex, em 1º de janeiro de 2026, passarei a Executive Chairman, e Gustav e Alex se tornarão nossos co-CEOs e também se juntarão ao nosso Conselho de Administração (com a aprovação dos acionistas).

Sempre pensei em funções como missões. No Spotify, tive cerca de nove missões mantendo o mesmo título. Nos primeiros dias, montei móveis e negociei nossos primeiros acordos. Toquei finanças, liderei produto, depois vendas e, em seguida, marketing. Já ocupei funções e fiz trabalhos em quase todas as áreas aqui. Esta é simplesmente minha próxima missão. Meu título muda — mas meu compromisso e crença no que estamos construindo não.

Para a maioria de vocês, muito pouco mudará. O Spotify tem uma forte equipe de liderança e um plano sólido que estamos executando. Isso não muda. O que muda é o meu tempo e foco. Como Executive Chairman, passarei mais tempo na visão de longo prazo: estratégia, alocação de capital, esforços regulatórios e as decisões que moldarão a próxima década do Spotify. Gustav e Alex continuarão a se reportar a mim e trabalharemos juntos de perto com nosso Conselho de Administração. Essa abordagem reflete um modelo europeu de Chairman, que é bastante diferente de um tradicional nos Estados Unidos, com o qual muitos de vocês podem estar familiarizados. Isso também significa que serei mais ativo do que alguns colegas norte-americanos que têm o título de Chairman.

Por que agora? Porque Alex e Gustav demonstraram claramente que, com o apoio desta equipe extraordinária, estão prontos para liderar o Spotify como co-CEOs. E porque todos vocês deram um passo à frente, posso com confiança me afastar da gestão do dia a dia. Juntos, mostramos ao mundo que o Spotify não é apenas um ótimo produto, mas também um ótimo negócio — entregando nosso primeiro ano completo de lucratividade na história da empresa. Não poderíamos estar em uma posição melhor. E para deixar claro, não estou saindo. Permanecerei profundamente envolvido nas grandes e decisivas decisões sobre o nosso futuro, em parceria com Gustav e Alex enquanto eles lideram o caminho.

Uma nota pessoal sobre o que vem a seguir para mim. Muitas vezes me perguntam: “Como criamos mais Spotifys a partir da Europa?” Por isso, alguns anos atrás, anunciei minha intenção de ajudar a criar mais dessas superempresas — companhias que estão desenvolvendo novas tecnologias para enfrentar alguns dos maiores desafios do nosso tempo. Compartilharei mais sobre como vou direcionar parte da minha energia de construtor para isso. Mas hoje é sobre o Spotify.

Obrigado por duas décadas extraordinárias. Obrigado por acreditarem em tornar ideias impossíveis possíveis e por me concederem o maior privilégio de uma vida. Vamos continuar — mais forte, melhor, mais rápido, mais intenso.

– Daniel

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