Artistas com deficiência têm representatividade analisada em mapeamento cultural com mais de 3 mil participantes

Estudo realizado pelo MinC e pela UFBA traz dados preliminares sobre artistas com deficiência, agentes culturais e profissionais de acessibilidade.
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Nathália Pandeló
Mapeamento Acessa Mais analisa dados sobre artistas e agentes culturais com deficiência em diferentes regiões do Brasil - Crédito Aldren Lincoln
Mapeamento Acessa Mais analisa dados sobre artistas e agentes culturais com deficiência em diferentes regiões do Brasil - Crédito: Aldren Lincoln

Durante o Setembro Verde, o Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), apresentou os dados preliminares do Mapeamento Acessa Mais. O levantamento, divulgado às vésperas do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, registrou 3.476 respostas em três categorias distintas: artistas com deficiência, agentes culturais com deficiência e profissionais de acessibilidade cultural com e sem deficiência. Desse total, 62,5% dos respondentes se declararam pessoas com deficiência.

O estudo aponta que se cadastraram 1.700 artistas com deficiência, 340 agentes culturais com deficiência e 1.444 profissionais ligados à acessibilidade. Entre estes últimos, 291 se autodeclaram pessoas com deficiência, representando 20% do grupo. Os organizadores destacam que o número de formulários não equivale necessariamente ao número de pessoas, já que era possível participar em mais de uma categoria.

Dados revelam lacunas e potencialidades

Segundo Edu O., coordenador do Projeto-Ação, os resultados preliminares ressaltam a necessidade de aumentar os investimentos e a constatação da diversidade de atuações. 

“Por outro lado, aponta também surpresas positivas e a certeza de que existem muitas pessoas com deficiência ocupando os mais diversos espaços da cadeia de produção cultural brasileira. Aquela afirmação que eu fazia no início do projeto de que contribuímos, há muitos séculos, para a cultura do nosso país, se confirma com a análise dos dados. Precisamos de mais investimentos para conseguirmos adentrar ainda mais nos territórios mais recônditos.”

O levantamento foi conduzido por uma equipe de tecnologia coordenada por Amanda Lyra e está em análise pela pesquisadora Stephanie Santos. A metodologia permitiu reunir informações detalhadas sobre áreas de atuação, distribuição regional e perfis de profissionais, oferecendo uma base inédita para formulação de políticas públicas.

Acessibilidade cultural no centro das políticas

Para o secretário da Sefli, Fabiano Piúba, a pesquisa contribui para fortalecer uma visão ampliada da acessibilidade no campo cultural. 

“Quando atuamos nas políticas culturais, estamos falando de acessibilidade cultural, cultura DEF e cultura do acesso, compreendendo as pessoas com deficiência como sujeitas dos processos de criação, produção, circulação, difusão e formação. Ou seja, essas pessoas são artistas, produtoras, gestoras e agentes culturais que já atuam ou que possam vir a atuar no campo das artes e da cultura.”

A coordenadora de Acessibilidade Cultural da Sefli, Aline Zeymer, pontua que os resultados abrem caminho para futuras iniciativas. 

“O produto dessa pesquisa será um importante material de pesquisa para elaboração de políticas futuras de incentivo e fomento à Cultura DEF e à Acessibilidade Cultural, bem como de reafirmação e reconhecimento da contribuição das pessoas com deficiência no meio cultural.”

Representatividade e desafios

Estudo analisa dados sobre artistas e agentes culturais com deficiência em diferentes regiões do Brasil
Estudo analisa dados sobre artistas e agentes culturais com deficiência em diferentes regiões do Brasil

Apesar do alcance, Aline lembra que o número de cadastros ainda reflete subnotificação. Segundo ela, mesmo com 3.476 respostas, o mapeamento representa apenas cerca de 3% dos 139.054 agentes culturais registrados na plataforma Mapas Culturais. 

“Mostra que esse seguimento tem participação na movimentação da nossa cultura e da economia criativa brasileira, mesmo enfrentando inúmeras barreiras. Portanto, urge o incentivo, o fomento e a qualificação desse setor, considerando que, conforme o último censo do IBGE, de 2022, a população de pessoas com deficiência representa cerca de 8,5% da população brasileira.”

Outro recorte mostra a distribuição regional dos participantes: 38% no Sudeste, 33% no Nordeste, 12,5% no Sul, 9,9% no Centro-Oeste e 7,2% no Norte. Essa divisão reflete, em parte, a concentração da infraestrutura cultural no Sudeste, mas também evidencia a expressiva participação de artistas e agentes culturais do Nordeste.

Em termos de linguagens artísticas, os dados apontam um leque amplo de representações: teatro (14,8%), música (12,4%), artes visuais (10,7%), dança (10,7%) e audiovisual (10,4%). Outras áreas de destaque foram literatura (9,4%), performance (8,3%), cultura popular (8,2%), artesanato (6,8%) e circo (2,2%). Esse panorama mostra que pessoas com deficiência atuam em praticamente todas as frentes do setor cultural.

Diversidade de funções e atuação profissional

Entre os agentes culturais mapeados, as maiores participações foram no audiovisual (13,2%), teatro (11,7%), artes visuais (11%) e cultura popular (10,7%). Já no caso dos profissionais de acessibilidade cultural, os principais campos de atuação são consultoria (20%), mediação cultural (19%), interpretação de Libras (15%) e roteirização de audiodescrição (11%).

Esses números mostram que a presença das pessoas com deficiência no setor cultural vai muito além da produção artística, alcançando funções estratégicas de mediação, acessibilidade e gestão. Para os organizadores, essa diversidade é um indicador fundamental para pensar políticas de formação e de inclusão mais abrangentes.

Próximos passos do estudo

O Mapeamento Acessa Mais encerrou sua fase de levantamento em fevereiro de 2025, com 3.498 cadastros no total. A iniciativa busca consolidar informações sobre a presença de pessoas com deficiência no setor cultural e subsidiar a criação de programas voltados à cultura DEF, termo que designa a produção artística realizada por pessoas com deficiência.

O resultado final do mapeamento servirá de base para a elaboração de políticas públicas de formação artística e para o fortalecimento do mercado cultural. Para MinC e UFBA, o estudo é um marco na busca por ampliar o acesso, o reconhecimento e o protagonismo das pessoas com deficiência na cultura brasileira.

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