Obra de Jackson do Pandeiro é declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba

A Paraíba oficializa a obra de Jackson do Pandeiro como Patrimônio Cultural Imaterial e reafirma o legado do Rei do Ritmo.
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Nathália Pandeló
Jackson do Pandeiro
Jackson do Pandeiro

O nome de Jackson do Pandeiro, um dos principais símbolos da música popular brasileira, foi reconhecido oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba. A Lei nº 13.902/2025, sancionada pelo governador João Azevêdo e publicada no Diário Oficial do Estado, garante a preservação e valorização da obra do artista.

Nascido José Gomes Filho, em 1919, em Alagoa Grande, Jackson se tornou uma das figuras mais importantes da música brasileira pela versatilidade rítmica. Do forró ao samba, passando pelo coco, rojão, frevo e marchinhas, construiu um repertório que ampliou a presença da cultura nordestina em todo o país. O título reafirma sua relevância histórica e artística, mais de quatro décadas após sua morte, em 1982.

A trajetória do Rei do Ritmo

Jackson cresceu em Campina Grande, para onde se mudou após a morte do pai, e iniciou ali sua trajetória musical. Com voz marcante e habilidade no pandeiro, ganhou espaço em rádios e palcos de diferentes regiões do Brasil. Sucessos como “O Canto da Ema”, “Sebastiana”, “Forró em Limoeiro”, “Alô Campina Grande” e “Chiclete com Banana” consolidaram sua popularidade.

Sua música atravessou gerações e foi reinterpretada por artistas como Elba Ramalho, Gal Costa, Luiz Gonzaga e Gilberto Gil. Esse trânsito por estilos distintos lhe rendeu o apelido de Rei do Ritmo, que resume bem sua contribuição à diversidade musical brasileira.

Na história da música brasileira, poucos pandeiristas conseguiram se destacar como artistas solo. O instrumento é muitas vezes associado a papéis de acompanhamento, especialmente em gêneros como o samba, onde o pandeiro ocupa posição central na roda, mas raramente projeta o intérprete para além desse contexto. O feito de Jackson, portanto, é singular: ele transformou o pandeiro em elemento protagonista de sua obra, usando-o como base para criar uma identidade própria e ganhar reconhecimento nacional, algo pouco comum para instrumentistas dessa categoria.

Legado preservado em lei

Jackson do Pandeiro 2
Jackson do Pandeiro

Segundo o Ecad, Jackson deixou 144 músicas e 282 gravações cadastradas, além de aproximadamente 435 canções registradas em sua carreira. Entre as mais executadas nos últimos dez anos estão “Na base da chinela” e “Cantiga do sapo”. Suas obras continuam a gerar rendimentos para os herdeiros, conforme a lei de direitos autorais, que garante proteção por 70 anos após a morte do autor.

O reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial amplia o alcance institucional da preservação do acervo do artista. O projeto de lei foi apresentado pelo deputado estadual Tovar Correia e aprovado pela Assembleia Legislativa da Paraíba, sendo posteriormente sancionado pelo governador.

A importância cultural de Jackson do Pandeiro

A oficialização ocorre 43 anos após a morte do artista e mostra como seu legado permanece ativo e capaz de inspirar novas políticas culturais. O gesto também se conecta a um movimento nacional de valorização de ícones da música brasileira, como o reconhecimento de Pixinguinha e Lupicínio Rodrigues como patronos da música no país.

O estilo de Jackson era marcado pela divisão rítmica singular, que reproduzia no canto o som do pandeiro. Essa forma de interpretar conferia balanço e naturalidade às canções e abriu caminho para que influenciasse músicos de gêneros variados. Essa inovação permitiu que circulasse entre o coco, o samba, o forró e a marchinha, sempre mantendo identidade própria.

A visibilidade da Paraíba na música brasileira

A Paraíba, berço de Jackson, ocupa lugar importante na formação cultural do Brasil, ainda que muitas vezes sem o mesmo destaque de outros estados. É terra de nomes como Sivuca, Chico César, Cátia de França, Zé Ramalho e a própria Elba Ramalho, além de tradições que moldaram a música popular. O reconhecimento da obra de Jackson fortalece a posição do estado como referência cultural e amplia a projeção nacional da sua produção artística.

Esse movimento contribui para consolidar a memória musical brasileira em sua diversidade regional. Ao lado de outros artistas de sua geração, Jackson exemplifica como a música nordestina redefiniu os rumos da canção no século XX e permanece presente em festas, gravações e apresentações ao vivo em todo o país.

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