O funk brasileiro alcançou um marco importante no Latin Grammy 2025. A faixa “Barbie”, parceria de MC Tuto com DJ Glenner, foi indicada na categoria Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa. A conquista desse reconhecimento preliminar coloca artistas de uma geração marcada pelo digital no mesmo patamar de reconhecimento que nomes consagrados da música latino-americana.
Na mesma categoria, concorrem “Só Quero Ver”, de BK’ & Evinha, “Demoro a dormir”, de Djonga com Milton Nascimento, “Caju”, de Liniker, e “A Dança (Ao Vivo)”, de MC Hariel com Gilberto Gil. Entre todos os indicados, “Barbie” é a única faixa que vem exclusivamente do universo do funk, já que os demais ou dialogam com grandes nomes da MPB ou estão ligados à nova cena da música popular brasileira.
Com trajetória construída a partir de hits orgânicos, Glenner acumula números que explicam esse alcance. São mais de 6,9 milhões de ouvintes mensais no Spotify e músicas com mais de 200 milhões de streams. “Barbie”, que chegou ao topo do ranking nacional da plataforma, agora é também símbolo da inclusão do funk em espaços que por muito tempo lhe foram negados.
A força do mercado digital
O reconhecimento do funk não acontece de forma isolada. Ele está diretamente conectado ao crescimento do mercado fonográfico brasileiro, que movimentou R$ 2,864 bilhões em 2023, alta de 13,4% em relação ao ano anterior. O streaming representa mais de 80% dessas receitas, e é nesse ambiente que o gênero construiu sua base sólida de consumo.
Segundo o Spotify, artistas brasileiros tiveram aumento de 600% em royalties desde 2017, ultrapassando R$ 1,2 bilhão apenas em 2023. O funk, que domina playlists nacionais e aparece cada vez mais em listas globais, é parte central dessa expansão. O consumo massivo no digital foi a ponte para que artistas como Glenner atravessassem as fronteiras do mercado local e alcançassem reconhecimento institucional.
Latin Grammy e novas conexões
Criada em 2020, a categoria Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa abriu espaço para gêneros urbanos na premiação. Em 2025, o funk se destaca. Além de “Barbie”, também concorre “A Dança (Ao Vivo)”, colaboração entre MC Hariel, DJ Matt D e Gilberto Gil. A presença de um ícone da MPB ao lado de artistas do funk sinaliza uma legitimação inédita, resultado da integração entre gerações e estilos.
Esse movimento mostra como o gênero, antes restrito a circuitos periféricos e alvo de preconceito, passa a ocupar o mesmo espaço simbólico de tradições consagradas da música brasileira. O Latin Grammy funciona como um selo de reconhecimento que fortalece a posição do funk como parte integrante do panorama musical latino-americano.
Do home studio para os palcos globais

No caso de DJ Glenner, a história ganha contornos ainda mais emblemáticos. Ligado ao selo KondZilla Nova Era, ele saiu de um home studio em São Paulo para alcançar as paradas nacionais. A indicação ao Grammy representa a consolidação de um caminho trilhado fora dos moldes tradicionais da indústria.
Esse percurso é compartilhado por outros nomes do funk, que ganharam projeção internacional nos últimos anos. Artistas como Anitta, Ludmilla e Kevin O Chris abriram portas para o gênero em festivais globais e colaborações com nomes do pop e do reggaeton. A presença de Glenner e Tuto no Grammy reforça essa continuidade, na qual novos artistas conseguem ampliar o alcance do funk em diferentes territórios.
O funk como ativo cultural e exportação
Além do streaming e das premiações, o funk se consolidou como produto cultural exportado. Hits brasileiros figuram em playlists editoriais globais do Spotify, como “Viral Hits Global” e “Funk Hits”, e chegam a ocupar posições de destaque em charts internacionais. A expansão também se reflete em turnês, com MCs levando o gênero para a Europa e os Estados Unidos, e em colaborações com produtores estrangeiros.
Esse reconhecimento ultrapassa o setor musical e alcança a publicidade, onde marcas de grande porte passaram a incorporar o funk em campanhas nacionais. O interesse comercial é mais uma prova da institucionalização do gênero, que hoje movimenta não apenas o mercado fonográfico, mas também a economia criativa em sentido amplo.
A indicação de DJ Glenner ao Latin Grammy, ao lado de MC Tuto, sintetiza esse processo. O funk, que já domina os números do streaming, agora se inscreve definitivamente no repertório das premiações mais tradicionais. O gênero deixa de ser apenas um fenômeno digital ou popular para se afirmar como parte relevante da narrativa da música latino-americana contemporânea.
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