Virgin responde a críticas sobre aquisição da Downtown e pede diálogo com independentes

Virgin Music rebate declarações de AIM e IMPALA sobre compra da Downtown e defende maior colaboração entre majors e independentes.
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Nathália Pandeló
Virgin Music Group e Downtown - logos

A disputa em torno da aquisição da Downtown Music pela Universal Music Group (UMG) ganhou um novo capítulo. Os co-CEOs da Virgin Music Group, Nat Pastor e JT Myers, divulgaram uma resposta oficial às críticas feitas pela AIM (Association of Independent Music) e pela IMPALA (Independent Music Companies Association), publicadas pelo site britânico Music Week em 16 de setembro.

As organizações independentes haviam manifestado preocupações sobre concentração de mercado e possíveis riscos de uso indevido de dados relacionados à operação. Em sua resposta, os executivos da Virgin classificaram algumas das alegações como “extraordinariamente irresponsáveis” e defenderam que o debate seja pautado por fatos concretos.

Divergências e pontos de colaboração

No comunicado, Pastor e Myers afirmam reconhecer o papel da AIM e da IMPALA na representação do setor independente, mas criticam a forma como algumas declarações foram conduzidas. Segundo eles, a AIM se coloca como parte neutra, mas já teria feito “múltiplas declarações públicas” sobre o tema.

“Respeitamos o importante papel da IMPALA e da AIM em representar parcelas da comunidade independente. Mas também precisamos corrigir o registro. A alegação da AIM de que são espectadores inocentes em uma ‘disputa da indústria’ iniciada pela Virgin e pela UMG é enganosa”, afirmaram os executivos.

Eles também destacaram que há temas em que majors e independentes encontram terreno comum, como monetização justa em plataformas digitais, uso responsável da inteligência artificial e combate a fraudes. Ainda assim, divergências podem surgir, como no caso do “Artist-Centric framework”, que busca reduzir conteúdos de baixa qualidade no streaming.

Trata-se de um novo modelo de pagamento no streaming, proposto pela UMG em parceria com a Deezer, que dá mais peso a reproduções ativas, engajamento real e combate a fraudes, buscando reduzir a remuneração de conteúdos considerados “ruído” e direcionar mais receita para artistas com público ativo. 

A Universal defende que a medida valoriza criadores legítimos e ajuda a limpar o ecossistema, enquanto AIM e IMPALA alertam que o sistema pode acabar favorecendo artistas já consolidados e concentrando ainda mais receitas nas majors, em detrimento de nomes emergentes e independentes.

Acusações consideradas sem provas

JT Myers e Nat Pastor, Virgin Music Group
JT Myers e Nat Pastor, da Virgin Music Group (Crédito: Jordan Strauss)

Um dos pontos mais delicados das novas declarações das organizações independentes, segundo a Virgin, refere-se à suspeita levantada por parte do setor de que a UMG poderia ter acesso e utilizar de forma inadequada dados de royalties da Curve, empresa da Downtown. A Virgin rebateu a acusação de forma dura.

“Eles fizeram alegações de que a UMG usaria de forma indevida dados confidenciais de royalties da Curve, violando contratos de clientes e sua confiança, sem qualquer evidência para apoiar tal alegação. Uma acusação tão grave – que corre o risco de minar a confiança de nossos clientes e prejudicar preventivamente as reputações das equipes da Virgin e da Downtown – é extraordinariamente irresponsável”, disseram os co-CEOs.

Defesa de Kenny Gates e críticas às entidades

Outro alvo das críticas foi a forma como a AIM se posicionou em relação a Kenny Gates, fundador da IMPALA e executivo da PIAS, que recentemente vendeu as últimas ações da empresa para a UMG.

“E a liderança da AIM agora atacou a integridade de Kenny Gates, um dos fundadores da IMPALA e um dos executivos independentes mais respeitados e influentes da história da indústria. É decepcionante ver a rapidez com que essas organizações passam a derrubar publicamente aqueles que discordam de sua posição, mesmo aqueles que trabalharam em nome dessas mesmas organizações por anos”, afirmaram Pastor e Myers.

Na avaliação da Virgin, a aquisição fortalece o setor independente ao oferecer recursos e inovação para que selos parceiros cresçam em escala global.

“A Virgin Music e a Downtown têm orgulho de trabalhar com muitos dos selos mais bem-sucedidos e ferozmente independentes do mundo, todos os quais se consideram ‘independentes de verdade’, independentemente da retórica da AIM. O setor independente continua a crescer e se diversificar, e acreditamos que esta parceria fornece recursos, transparência e inovação que ajudam nossos parceiros a competir e prosperar em um mercado global cada vez mais dinâmico”, declararam.

Proposta de diálogo aberto

Os executivos concluíram reforçando a disposição para um diálogo construtivo com associações de independentes após a conclusão do negócio.

“Em última análise, aqueles de nós no espaço de serviços de gravadoras somos julgados pelos nossos resultados, e nossos clientes decidem permanecendo ou saindo. Esperamos provar o valor que a união da Virgin e da Downtown trará ao mercado. E esperamos poder engajar em um diálogo de boa-fé com as associações comerciais independentes ao redor do mundo em áreas de colaboração aprimorada”, destacaram.

Eles acrescentaram que já haviam se reunido anteriormente com a CEO da AIM, Gee Davy, para demonstrar interesse em cooperação. 

“A bola está na quadra da AIM há meses – estamos aqui e prontos para discutir como a Virgin pode ajudar a construir uma relação mais produtiva entre a UMG e a sua organização e esperamos que escolham se engajar conosco para que juntos possamos trabalhar em prol de todo o ecossistema musical.”

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