A Deezer atualizou seus números sobre a presença de músicas geradas por inteligência artificial em sua plataforma e revelou que 28% dos novos envios diários são faixas 100% produzidas por IA. Isso equivale a mais de 30 mil músicas todos os dias, um salto expressivo em comparação aos 10% registrados em janeiro e 18% em abril de 2025.
O aumento chama atenção pelo ritmo acelerado, mas também levanta questões sobre a real audiência desse tipo de conteúdo. Segundo a plataforma, apesar do volume, as músicas geradas por IA representam apenas 0,5% de todas as reproduções, das quais até 70% são consideradas fraudulentas, muitas vezes resultantes de bots. Na prática, apenas 0,35% dos streams vêm de ouvintes humanos.
Estratégia contra usos fraudulentos
O CEO Alexis Lanternier reforçou a postura da empresa diante dessa realidade.
“Nosso enfoque é simples: removemos o conteúdo totalmente gerado por IA das recomendações algorítmicas e não o incluímos em playlists editoriais”, disse.
O objetivo, segundo ele, é reduzir os impactos negativos sobre o pool de royalties e manter uma experiência transparente para os usuários.
Esse posicionamento se conecta a iniciativas anteriores da Deezer, que em 2023 implementou o modelo de pagamento “centrado no artista”, em parceria com o Universal Music Group, e eliminou mais de 26 milhões de faixas classificadas como “inúteis”. A filtragem de envios de baixa qualidade e com finalidades questionáveis tem sido um pilar das ações da companhia.
Como funciona a detecção

A Deezer afirma que sua tecnologia consegue identificar músicas totalmente geradas por IA a partir de modelos como Suno e Udio, ambos atualmente processados judicialmente por gravadoras internacionais por questões de direitos autorais. Desde junho, o serviço também passou a sinalizar aos usuários, por meio de tags, quais álbuns incluem faixas criadas integralmente por IA, tornando o processo mais transparente.
Lanternier explicou que a exclusão desse tipo de conteúdo das recomendações é fundamental para proteger artistas e fãs.
“Dessa forma, garantimos que o impacto no pool de royalties permaneça mínimo, ao mesmo tempo em que oferecemos uma experiência transparente ao usuário”, afirmou.
Pressão da indústria da música
A explosão do chamado “AI slop”, termo usado para descrever o excesso de conteúdo automatizado e sem curadoria, preocupa também entidades ligadas a compositores e intérpretes. Um estudo da CISAC em parceria com a PMP Strategy, do qual a Deezer participou, estima que até 25% das receitas de criadores podem estar em risco até 2028, o que equivaleria a cerca de 4 bilhões de euros.
Essa discussão acontece em paralelo à aparição de artistas virtuais com números expressivos em outras plataformas. O caso mais emblemático foi o do ato country de IA Aventhis, que chegou a ultrapassar 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify, embora esse número tenha caído para cerca de 520 mil recentemente.
O desafio do equilíbrio
Os dados recém-divulgados pela Deezer indicam que a plataforma recebe hoje cerca de 107 mil novas faixas por dia, o que a aproxima das estatísticas globais da Luminate, que apontava uma média de 99 mil novos ISRCs diários no início do ano. A diferença pode refletir justamente o aumento de conteúdos gerados por inteligência artificial.
Para a indústria, o desafio passa a ser distinguir o uso criativo e inovador da IA de práticas que tentam explorar brechas no sistema de remuneração. A Deezer tem buscado se colocar à frente nesse debate, mas os próximos anos indicarão até que ponto a tecnologia será incorporada de forma legítima ao mercado ou se continuará associada, majoritariamente, a usos fraudulentos.
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