TuneTraders lança primeira música com biometria vocal no Brasil

Tecnologia de biometria protege a voz de Pedro Viáfora contra clonagem por inteligência artificial em nova versão de “No Rastro da Lua Cheia”.
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Nathália Pandeló
Biometria vocal de Pedro Viáfora em No Rastro da Lua Cheia
Biometria vocal de Pedro Viáfora em "No Rastro da Lua Cheia" (Crédito: Divulgação)

A icônica canção “No Rastro da Lua Cheia”, de Almir Sater e Renato Teixeira, lançada originalmente no álbum “Sete Sinais” (2007), ganhou nova versão na voz de Pedro Viáfora, integrante do coletivo 5 a Seco. O diferencial, porém, está na tecnologia: a gravação é a primeira no Brasil a utilizar biometria vocal com registro em blockchain, solução criada pela TuneTraders, startup nacional de tecnologia para o setor musical.

A biometria vocal funciona como uma “impressão digital da voz”, registrada em blockchain para garantir autenticidade, rastreabilidade e proteção contra usos não autorizados, especialmente em produções geradas por inteligência artificial

Segundo a TuneTraders, a adoção desse recurso em lançamento comercial é inédita no país. No exterior, já existem soluções que identificam cantores por traços biométricos da voz ou combinam blockchain e biometria para proteção de propriedade intelectual, mas não há comprovação pública de uso idêntico em lançamentos fonográficos.

Voz como assinatura única

Cada voz é tratada como uma assinatura exclusiva, difícil de falsificar e passível de verificação futura. Para artistas, isso significa maior controle e tranquilidade em relação ao avanço de ferramentas de clonagem vocal.

“A gente está vivendo um momento de transformação na música. Com o avanço desenfreado da inteligência artificial, eu mesmo já tive receio de que minha voz pudesse ser usada para treinar modelos de IA ou até gerar canções sem meu consentimento. Saber que agora ela está verificada, protegida e registrada me dá mais segurança para criar. É uma tecnologia que nos dá tranquilidade e, ao mesmo tempo, abre novas possibilidades”, diz Pedro Viáfora.

A novidade amplia a discussão sobre como proteger direitos autorais e identidades artísticas diante da popularização de sistemas de geração de áudio. O uso do blockchain como registro dá respaldo técnico e jurídico em possíveis disputas, reforçando a confiança em novas produções e na preservação de acervos já existentes.

Voz de Pedro Viáfora é a primeira com biometria vocal no mercado fonográfico brasileiro
Voz de Pedro Viáfora é a primeira com biometria vocal no mercado fonográfico brasileiro (Crédito: Divulgação/Coala Festival)

Estratégia da TuneTraders

De acordo com Vittório Brun, CEO da TuneTraders, o objetivo da empresa é antecipar riscos antes que problemas se tornem incontroláveis no setor.

“Não esperamos o problema explodir para agir. A clonagem vocal já é uma realidade, e pra quem vive da própria voz, isso representa uma ameaça concreta. Por isso, estamos lançando nossa tecnologia de biometria vocal como mais uma camada de proteção real. O nosso objetivo é se antecipar aos riscos e garantir que a identidade de quem canta seja preservada — com precisão, com respaldo e com tecnologia feita para proteger, não para substituir.”

A tecnologia está disponível para artistas, selos e gestores de catálogo por meio da Tune.Distro, distribuidora conectada às principais plataformas de streaming. A empresa já opera com transparência e ferramentas de controle de catálogo, agora ampliadas com a autenticação biométrica.

Camadas de proteção digital

A biometria vocal é a segunda inovação lançada pela TuneTraders em 2025. Em maio, a empresa apresentou o IA Detector, sistema desenvolvido no Brasil capaz de identificar com 91% de precisão elementos gerados por inteligência artificial em composições.

Combinadas, as duas ferramentas representam um avanço no que a startup chama de “empilhamento de IA’s”: um conjunto de camadas integradas de diferentes modelos que aumentam a exatidão na detecção e autenticação. Segundo Vittório Brun, essa arquitetura será expandida em breve.

“As soluções da TuneTraders já nascem com tecnologia de ponta, mas o que vem por aí vai além. Estamos desenvolvendo formas inéditas de identificar melodia, simplificar o processo de upload, além da detecção de fraudes e verificação de autoria com IA própria. É só o começo.”

Capa de No Rastro da Lua Cheia, lançada com biometria vocal
Capa de “No Rastro da Lua Cheia”, lançada com biometria vocal

Impactos para o mercado fonográfico

A introdução da biometria vocal no mercado fonográfico brasileiro chega com tons de inovação no momento em que o setor debate a aplicação da inteligência artificial na música. Para artistas, é uma camada adicional de segurança sobre sua identidade vocal. Para selos e distribuidoras, pode se tornar ferramenta de compliance e preservação de catálogos.

No exterior, iniciativas voltadas à identificação vocal já começam a aparecer em workflows de plataformas e titulares de direitos, mas a aplicação em lançamentos fonográficos ainda é rara. Nesse contexto, o movimento brasileiro insere o país no radar internacional como desenvolvedor de soluções de ponta para a música.

“No Rastro da Lua Cheia” já está disponível em todas as plataformas de áudio e ganhou clipe inédito na Tune.Play. O lançamento marca a reinterpretação de uma obra consagrada e também um novo capítulo na relação entre tecnologia, voz e proteção artística no Brasil.

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