As bandas Sleep Token e Turnstile estão liderando uma nova fase do rock em 2025, marcada por inovação sonora, presença estética elaborada e uso estratégico das plataformas digitais. De acordo com o Chartmetric, ferramenta de análise de dados musicais, os dois grupos se destacam entre os nomes que vêm expandindo os limites do gênero e conquistando espaço em playlists e rankings de streaming ao redor do mundo.
O álbum Even In Arcadia, lançado este ano pelo Sleep Token, levou a banda ao topo da Billboard 200 pela primeira vez. A façanha veio apenas duas semanas após o grupo Ghost também alcançar o primeiro lugar com o disco Skeletá. Com essa sequência, o rock pesado voltou a figurar no mainstream de forma consistente, algo que não acontecia desde o lançamento de Power Up, do AC/DC, em 2020.
Encerrando o Mês do Rock, o número é mais que uma boa notícia: é sinônimo de que o gênero ainda pulsa e tem potencial de mercado.
Rock renova fôlego com dados de streaming

O Chartmetric ranqueia artistas com base em uma combinação de métricas de engajamento, como ouvintes mensais, seguidores e desempenho em playlists. Em julho de 2025, o Sleep Token aparece em 2.159º lugar no ranking, enquanto o Turnstile figura na posição 3.047. Esses números sinalizam uma movimentação crescente, especialmente relevante num momento em que o rock tradicional enfrenta desafios para dialogar com as gerações mais jovens.
Um dos sinais dessa renovação é o desempenho das bandas em listas como a Top 50 Viral Global do Spotify, que ranqueia músicas com base em picos de reprodução, compartilhamento e descoberta. No primeiro semestre de 2025, 11 músicas de rock pesado apareceram na lista, número equivalente ao ano inteiro de 2024. A diferença é que, desta vez, mais da metade dos artistas surgiram a partir dos anos 2010, com destaque para Sleep Token (quatro faixas) e Turnstile (uma).
Estética visual e misticismo ampliam apelo

O Sleep Token e o Ghost são adeptos das apresentações anônimas, com máscaras, figurinos elaborados e mitologias próprias. Essa estética desperta o interesse de fãs acostumados a consumir narrativas visuais complexas, como as de games ou franquias cinematográficas. O Sleep Token, por exemplo, nunca revelou a identidade de seus integrantes e estrutura todo o projeto em torno de um universo ficcional onde a figura central é uma entidade chamada “Sleep”.
Na única entrevista registrada da banda, os integrantes afirmam: “Estamos aqui para servir ao Sono e projetar Sua mensagem”. A partir disso, os fãs passaram a interpretar letras, símbolos e elementos visuais para construir cronologias e teorias sobre a história por trás do grupo. O envolvimento do público vai além da música e gera um ciclo de engajamento sustentado pela curiosidade e interatividade.
Essa relação intensa entre fãs e artistas também é alimentada por conteúdos que circulam nas redes sociais. Mesmo bandas veteranas como o Slipknot, que seguem apostando em narrativas visuais, continuam protagonizando momentos virais. A capacidade de gerar conteúdos breves e impactantes, como clipes, trechos de shows ou postagens enigmáticas, faz diferença no ambiente digital, onde a atenção do público é fragmentada.
Mistura de estilos e força nas playlists
Outro fator que impulsiona o crescimento dessas bandas é a disposição para experimentar estilos diversos. O álbum Even In Arcadia, do Sleep Token, traz faixas que combinam batidas de reggaeton com guitarras distorcidas, como em “Caramel”. Já o Turnstile alterna passagens punk com elementos de dance music e melodias limpas. No disco NEVER ENOUGH, há espaço para flautas, batidas suaves e harmonias que fogem do hardcore tradicional.
Essa fusão de estilos facilita a inclusão em playlists com curadoria ampla, como POLLEN e misfits 2.0, que priorizam uma abordagem aberta e já acumulam milhões de seguidores. O algoritmo tende a favorecer músicas que alcançam diferentes tipos de público, aumentando as chances de descoberta.
Com o avanço do streaming, os ouvintes mais jovens passaram a desenvolver gostos cada vez mais variados. Uma mesma playlist pode reunir faixas de R&B, pop, hip-hop e rock pesado. Essa escuta fragmentada, que se adapta ao momento do dia ou ao humor de quem ouve, cria oportunidades para que o rock dialogue com diferentes universos sonoros e encontre novos públicos.
Parcerias e remixes ampliam alcance

As colaborações entre artistas de gêneros distintos também têm contribuído para ampliar o alcance do rock pesado. O grupo Falling In Reverse, por exemplo, misturou seu som emo-metal com participações de nomes como Jelly Roll e Tech N9ne. A banda canadense Spiritbox viu seu público crescer após lançar “Shivering” com o DJ Illenium, e em seguida remixar a faixa “Cobra” com Megan Thee Stallion, unindo elementos do rap com guitarras distorcidas.
Artistas com mais tempo de estrada também estão explorando essas possibilidades. Em 2024, o produtor de house CYRIL remixou “Sound of Silence”, do Disturbed. A nova versão fez a audiência da banda dobrar, alcançando mais de 500 milhões de streams. A faixa original, que já era uma releitura de Simon & Garfunkel, passou a ser consumida por um público ainda mais amplo.
Reconhecimento institucional e novas audiências
As apostas estéticas e sonoras do Turnstile e do Sleep Token também vêm sendo reconhecidas por premiações importantes. O álbum GLOW ON, lançado pelo Turnstile em 2021, foi indicado ao Grammy em três categorias diferentes: melhor canção de rock, melhor performance de rock e melhor performance de metal. Essa variedade de indicações reflete a dificuldade de rotular o grupo em um único estilo. Desde então, os ouvintes mensais da banda cresceram de 198 mil para 3,6 milhões.
O Ghost também foi indicado ao Grammy por “Phantom Of The Opera”, faixa que carrega o nome de um personagem conhecido pela teatralidade e pela identidade misteriosa. A escolha do título está alinhada com a proposta da banda, que aposta na performance e em referências simbólicas para se destacar.
As bandas que vêm chamando mais atenção em 2025 apostam em música de qualidade, construção de universos visuais e estratégias consistentes para dialogar com as novas formas de consumo. O engajamento gerado por esse conjunto de elementos sustenta o crescimento desses artistas, mesmo sem depender de ações promocionais tradicionais. Ao criar experiências completas e imersivas, o Sleep Token, o Turnstile e outros nomes do rock atual mostram que o gênero ainda tem muito espaço para evoluir e surpreender.
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