A Praia de Copacabana é um dos pontos mais emblemáticos do Rio de Janeiro e um dos espaços mais utilizados para grandes eventos ao ar livre. E isso não acontece por acaso.
Ao longo das últimas décadas, a praia se firmou como um palco de alcance global, reunindo milhões de pessoas em shows gratuitos de artistas nacionais e internacionais. Mais recentemente, esse papel ganhou nova evidência.
Após a apresentação histórica de Lady Gaga, a Billboard França atualizou o ranking dos maiores públicos já registrados em um show. O dado chama atenção: nada menos que cinco dos dez maiores eventos da lista aconteceram em Copacabana.
De Rod Stewart a Lady Gaga, passando por Madonna, Jorge Ben Jor e Rolling Stones, a orla carioca consolidou sua reputação como um dos maiores espaços do mundo para megaeventos gratuitos, sejam eles de música brasileira, pop ou rock.
O cantor britânico, conhecido pelo sucesso “Maggie May”, lidera o ranking com o show da virada de 1994 para 1995, durante o réveillon promovido pela prefeitura do Rio. A apresentação atraiu mais de 3,5 milhões de pessoas e entrou para o Guinness Book.
Em terceiro lugar aparece Jorge Ben Jor, que comandou a virada de 2022 para 2023 para cerca de 3 milhões de presentes. Outros três shows realizados na praia também figuram na lista: Lady Gaga (2025), com estimativas variando entre 2,1 e 2,5 milhões de pessoas; Madonna (2024), com 1,6 milhão; e Rolling Stones (2006), com 1,5 milhão.
Tradição em festas populares

Segundo Braulio Lorentz, editor da Pop & Arte no G1, essa relação da praia com grandes eventos é construída há décadas — e tem raízes no réveillon carioca.
“Copacabana tem um histórico de grandes eventos que vem do réveillon, então foi um processo natural a praia se tornar um espaço para mega shows”, afirma Lorentz.
O jornalista está lançando o livro “Baseado em Hits Reais”, atualmente em campanha de financiamento coletivo até 18 de maio. Ele explica que essa tradição facilitou a vida das produtoras. “É uma estrutura já testada por produtoras e já aprovada pelo público”, completa.
Braulio lembra que o show de Rod Stewart, embora seja o número 1 da lista, não foi exatamente uma apresentação isolada.
“No caso do cantor inglês, vale a pena mencionar sempre que era um evento com outros shows e fogos de artifício, uma festa de Reveillón mesmo. Então, acho um pouco injusto colocá-lo em primeiro lugar com mais de 3,5 milhões de pessoas sem citar esse diferencial.”
Outros nomes marcaram a história da praia antes da era dos megaeventos patrocinados. Nos anos 1990, Jorge Ben Jor e Tim Maia também se apresentaram ali, nas viradas de ano.
A estrutura da cidade ajuda

Para o apresentador do Multishow Guilherme Guedes, que participou da transmissão ao vivo do show de Lady Gaga, o contexto da cidade é fundamental para entender esse protagonismo.
“O Rio de Janeiro é uma cidade que há décadas celebra grandes festas, grandes eventos, grandes massas se reunindo. É onde nasceu o Rock in Rio, o primeiro grande festival brasileiro”, afirma.
Segundo ele, Copacabana também se beneficia da estrutura urbana. “É um dos maiores pontos turísticos do mundo e tem acesso relativamente fácil a vários pontos da cidade”, diz.
Embora o sistema de transporte do Rio tenha limitações, a conexão com a orla, a malha de hotéis e a rede de restaurantes ajudam a absorver o volume de público. Além disso, a geografia da praia — com uma faixa larga de areia e ruas paralelas — facilita a mobilidade e a segurança.
Apoio da prefeitura e das marcas

Desde 2023, a prefeitura do Rio tem reforçado a realização de shows gratuitos na orla. A plataforma Todo Mundo no Rio, lançada pela Secretaria de Turismo, prevê a realização regular de megaeventos em Copacabana, com apoio da iniciativa privada.
Entre os patrocinadores mais atuantes está a Deezer, que esteve presente tanto no show de Madonna (2024) quanto no de Lady Gaga (2025). Segundo a empresa, o envolvimento com eventos desse porte faz parte da estratégia de marca.
A empresa foi a única patrocinadora presente nas duas edições. “Copacabana tem uma relação de longa data com grandes shows tanto de artistas internacionais como também de ícones da música brasileira”, afirma Yuri Valdevite, líder de marketing da Deezer na América Latina.
Impacto direto na economia
O show de Lady Gaga ilustra bem esse modelo. Segundo dados divulgados pela Riotur e pela organização do evento, a apresentação atraiu 600 mil turistas ao Rio de Janeiro. O impacto econômico foi estimado em R$ 600 milhões, movimentando os setores de hospedagem, transporte, alimentação e comércio local.
Para Valdevite, essa estratégia tem tudo para se tornar mais frequente.
“O que era algo esporádico, agora parece se tornar recorrente com a criação da plataforma Todo Mundo no Rio, que promete inserir Copacabana de forma definitiva no calendário da música internacional”, comemora.
Os desafios de manter Copacabana no circuito global
Apesar do histórico impressionante, transformar o Rio de Janeiro em uma capital global de megashows não é tarefa simples — e ainda enfrenta entraves importantes.
Nos últimos anos, a cidade vem ficando de fora de algumas turnês internacionais de grande porte. São Paulo tem sido a principal escolha de muitos artistas, que consideram a capital paulista mais preparada em termos de logística, número de casas de espetáculo, estrutura urbana e poder de consumo do público.
No caso dos shows em espaço aberto, como os de Copacabana, a segurança também é um ponto sensível. A cidade frequentemente aparece no noticiário por conta da violência urbana, o que gera preocupações entre produtores, patrocinadores e artistas.
Durante o show de Lady Gaga, por exemplo, a polícia informou que impediu uma tentativa de atentado com bomba, reforçando a complexidade de operar um evento desse porte em ambiente aberto. O episódio não teve maiores consequências, mas foi amplamente noticiado.
Outro ponto de atenção é a mobilidade. Muitos espectadores relataram dificuldades para acessar o metrô e outros meios de transporte ao final da apresentação. Com uma multidão recorde, gargalos eram esperados, mas a cidade ainda precisa melhorar sua infraestrutura de transporte e comunicação para comportar esse tipo de evento com mais eficiência.
Esses aspectos se tornam ainda mais relevantes diante das declarações recentes do prefeito Eduardo Paes, que tem ventilado a possibilidade de trazer nomes como U2 e Beyoncé para Copacabana. Para que isso se concretize, será necessário investir em soluções que garantam conforto, segurança e acessibilidade.
Ainda assim, o Rio de Janeiro segue sendo uma referência mundial em festas populares marcadas por música e celebração coletiva. Com a repercussão internacional gerada pelo show de Lady Gaga, essa imagem se fortalece — e Copacabana reafirma seu lugar como um dos grandes palcos culturais do planeta.
- Leia mais:
- 5 dos 10 maiores shows da história aconteceram em Copacabana – especialistas opinam sobre o que explica esse enorme palco a céu aberto
- Bad Bunny cresce 4 vezes no Brasil, revela Spotify — entenda o fenômeno
- Warner lança WMG Pulse para oferecer dados em tempo real a artistas e compositores
- Exclusivo: Papatinho assina com a Universal Music Brasil e anuncia projeto “MPC – Música Popular Carioca”
- Prêmio de até R$10 milhões marca nova fase do Programa Incentivar, do Instituto Rumo