Nana Caymmi morre aos 84 anos e Brasil perde grande nome entre suas principais intérpretes

Nana Caymmi, uma das maiores vozes da música brasileira, morreu no Rio após nove meses de internação por arritmia cardíaca.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Nana Caymmi (Crédito: 26° Prêmio da Música Brasileira)
Nana Caymmi (Crédito: 26° Prêmio da Música Brasileira)

Morreu no dia 1º de maio, no Rio de Janeiro, a cantora Nana Caymmi, aos 84 anos. Internada desde agosto de 2024 para tratar uma arritmia cardíaca, a artista faleceu na Casa de Saúde São José, no Humaitá, por disfunção de múltiplos órgãos. 

O corpo está sendo velado nesta sexta-feira (2) no Theatro Municipal do Rio, com cerimônia restrita à família nas primeiras horas do dia. O sepultamento está previsto para as 14h no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Filha de Dorival Caymmi e de Stella Maris, e irmã dos músicos Danilo e Dori Caymmi, Nana nasceu no Rio de Janeiro em 29 de abril de 1941 e cresceu em um ambiente profundamente musical. Com apenas quatro anos, já era incentivada pelo pai a cantar. 

A estreia oficial ocorreu ainda na adolescência, em dueto com Dorival, na canção “Acalanto”. Ao longo da carreira, consolidou-se como uma das grandes intérpretes da música brasileira, com uma discografia marcada por rigor estético e escolhas de repertório que priorizavam o lirismo e a densidade emocional.

Trajetória e legado musical

Nana participou do disco “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”, de 1964, e venceu o Festival Internacional da Canção de 1966 com a música “Saveiros”, composta por Dori Caymmi e Nelson Motta. Mesmo sendo vaiada na ocasião, seguiu em frente. “Eu tava mais preocupada em não desmaiar do que com as vaias”, relembrou em entrevista posterior.

Entre seus trabalhos mais celebrados estão os álbuns “Nana Caymmi” (1975), “Bolero” (1993), “A noite do meu bem – As canções de Dolores Duran” (1994), “Nana, Tom, Vinicius (2020) e “Nana Caymmi canta Tito Madi” (2019). Sua voz também marcou aberturas de novelas como Hilda Furacão e Suave Veneno, o que rendeu a coletânea “Nana Novelas”, lançada pela Universal Music em 2017.

Apesar de não ter tido a mesma popularidade de outras intérpretes da MPB, como Gal Costa ou Elis Regina, Nana sempre foi admirada por músicos e críticos. 

Posicionamentos e polêmicas

Gilberto Gil e Nana Caymmi no camarim do Canecão em1986 (Crédito Instituto Gil)
Gilberto Gil e Nana Caymmi no camarim do Canecão em1986 (Crédito: Instituto Gil)

Nos últimos anos, Nana também se destacou por sua postura combativa e opiniões políticas contundentes. Em 2019, em entrevista à Folha de S. Paulo, declarou apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e fez críticas públicas a Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, chamando-os de “comunistas”. Durante o curto casamento com Gil, os dois dividiram palcos e composições, como a música “Bom Dia”, inscrita no III Festival de Música Brasileira da TV Record.

Também comentou negativamente os gostos musicais das netas e se disse decepcionada com a carreira da sobrinha Alice Caymmi. Essas falas geraram atritos na família. No entanto, após a morte da tia, Alice publicou uma mensagem emocionada nas redes sociais, chamando a perda de “dor indescritível e uma perda irreparável”, e declarou sua admiração pela trajetória artística de Nana, destacando canções como “Resposta ao Tempo”.

Despedida e homenagens

Durante o velório no Theatro Municipal, a filha da cantora, a jornalista Stella Caymmi, declarou à TV Globo: “Eu perco a minha mãe, mas hoje o Brasil perde um pouco de bom da música brasileira. Ela era uma mulher corajosa. Nos criou com dignidade, valores, formou o nosso gosto para música”.

O irmão Danilo Caymmi também falou à imprensa, dizendo que “a gente perdeu a grande intérprete Nana Caymmi”. Ele relembrou o sofrimento da irmã nos últimos meses: “Foram nove meses de sofrimento intenso dentro de hospital”.

Entre as homenagens mais discretas, chamou atenção a de Gilberto Gil, que publicou uma foto em preto e branco de Nana nos stories de seu Instagram, acompanhada da música “Resposta ao Tempo”, um dos maiores sucessos da cantora. Sem legenda, o gesto foi interpretado como uma despedida silenciosa, deixando que a canção falasse por si.

Com mais de 60 anos de carreira, Nana Caymmi deixa três filhos, duas netas, uma discografia celebrada e uma trajetória marcada por intensidade artística, coerência estética e opiniões firmes — que dividiam, mas nunca deixavam de ser ouvidas.

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