Deezer registra aumento de músicas feitas com IA e recebe 20 mil faixas por dia

Plataforma de streaming Deezer afirma que 18% das faixas enviadas diariamente são totalmente geradas por inteligência artificial.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Deezer

O volume de músicas geradas por inteligência artificial na Deezer dobrou nos últimos meses. Segundo a empresa francesa de streaming, cerca de 20 mil faixas feitas integralmente por IA são carregadas em seus sistemas diariamente, o que corresponde a 18% de todo o conteúdo novo recebido. Em janeiro deste ano, o número era de aproximadamente 10 mil faixas por dia.

A escalada de uploads automatizados levou a Deezer a reforçar medidas de controle. Desde o início de 2025, a plataforma utiliza uma ferramenta própria de detecção para identificar e filtrar músicas criadas com IA, impedindo que esse conteúdo seja promovido em recomendações algorítmicas. 

O sistema, lançado em janeiro após o registro de dois pedidos de patente em dezembro, foi projetado para identificar faixas geradas por modelos como Suno e Udio, entre outros.

Ferramenta de detecção busca proteger direitos autorais

A ferramenta de IA da Deezer foi desenvolvida com o objetivo de proteger os artistas e compositores. De acordo com o diretor de inovação da plataforma, Aurelien Herault, a medida visa a atender uma demanda que está apenas começando.

“O conteúdo gerado por IA continua a inundar plataformas de streaming como a Deezer, e não vemos sinais de que isso vá diminuir.”. 

Ele afirma que a tecnologia pode ser positiva para a criação e o consumo de música.

“A IA generativa tem o potencial de impactar positivamente a criação e o consumo de música, mas precisamos abordar esse desenvolvimento com responsabilidade e cuidado, a fim de proteger os direitos e as receitas de artistas e compositores, mantendo a transparência para os fãs. Graças à nossa ferramenta de ponta, já estamos removendo conteúdo totalmente gerado por IA das recomendações algorítmicas.”

Segundo Herault, a detecção de faixas de IA permite à empresa excluir esse material das recomendações tanto algorítmicas quanto editoriais. O executivo também destacou que a ferramenta tem capacidade de adaptação e pode funcionar mesmo sem acesso a conjuntos de dados específicos, desde que haja exemplos disponíveis para aprendizado, o que amplia sua aplicabilidade diante do surgimento de novas tecnologias.

Impacto da IA preocupa setor musical

Inteligência artificial - IA
Crédito: Freepik

O crescimento acelerado do uso de IA tem provocado reações de diferentes segmentos da indústria da música. Suno e Udio, dois dos principais geradores de conteúdo musical automatizado, enfrentam processos judiciais movidos por gravadoras das três maiores empresas do setor, sob acusação de uso não autorizado de obras protegidas por direitos autorais em seus treinamentos. A empresa alemã GEMA – sigla da Sociedade para a Realização Musical e os Direitos de Reprodução Mecânica, da Alemanha – também processou a Suno em janeiro.

Em paralelo, artistas como Billie Eilish, Nicki Minaj e Stevie Wonder assinaram uma carta aberta alertando que o uso da IA pode “sabotar a criatividade” e reduzir as oportunidades para músicos humanos. A preocupação não se limita à produção musical, mas também à remuneração: um relatório da CISAC, federação internacional de sociedades de autores, estima que até 24% da receita dos criadores pode ser comprometida até 2028 com o avanço das IAs generativas.

Deezer adota modelo centrado no artista

Além do controle sobre músicas geradas por IA, a Deezer tem apostado em medidas para valorizar conteúdos de maior relevância artística. Em 2023, a plataforma implementou, em parceria com a Universal Music Group, um modelo de remuneração centrado no artista. A proposta prioriza o pagamento a músicos com grande número de ouvintes reais e reduz o incentivo à distribuição de faixas de baixa qualidade ou com finalidades comerciais pouco transparentes.

A iniciativa foi bem recebida por outros players do setor. A Warner Music Group e a organização independente Merlin também aderiram ao modelo na França, ampliando o alcance dessa política de valorização de artistas ativos e com engajamento orgânico. Como parte dessa estratégia, a Deezer removeu cerca de 26 milhões de faixas que considerou “inúteis” para seus usuários.

O cenário atual mostra que a disputa entre conteúdo automatizado e música criada por humanos está apenas começando. Enquanto novas ferramentas prometem ampliar o acesso à criação musical, plataformas como a Deezer se veem diante do desafio de equilibrar inovação com responsabilidade, transparência e defesa dos direitos autorais. A tendência é que o debate se intensifique à medida que novas tecnologias surgirem e a regulação do setor avance em diferentes países.

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