Levantamento do Discogs explica por que o preço do vinil não para de subir

Análise detalhada mostra que combinação de inflação, custos de produção do vinil e estratégias de mercado impulsionam alta constante nos valores.
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Nathália Pandeló
Black Friday - Discos de vinil em promoção

O mercado de vinil vive uma escalada de preços que parece não ter fim, e um recente estudo do Discogs – principal plataforma global de comércio de discos – revela as razões por trás desse fenômeno. 

A pesquisa, que analisou milhares de transações entre 2020 e 2025, identificou três fatores principais que explicam a valorização do formato analógico: o aumento generalizado dos custos de produção, os efeitos da inflação pós-pandemia e as novas estratégias comerciais adotadas pela indústria fonográfica.

O cenário atual contrasta com o boom inicial do revival do vinil, quando os preços se mantinham relativamente estáveis. Entre 2020 e 2025, o valor médio de um álbum novo saltou de aproximadamente US$ 30 para cerca de US$ 37, acumulando alta de 24% no período. O mais preocupante é que essa trajetória ascendente mostra sinais de continuidade, com projeções indicando novos aumentos para os próximos anos.

Custos de produção em espiral

O relatório do Discogs detalha como os componentes básicos para fabricação de discos de vinil se tornaram bem mais caros. A resina de policarbonato, matéria-prima essencial, teve aumento de preço superior a 18% desde 2020. As capas internas e sleeves, que dependem de papel de qualidade específica, também registraram altas devido à escassez de insumos.

As próprias fábricas de prensagem contribuem para esse cenário. Com a demanda em níveis recordes, muitas plantas operam além de sua capacidade nominal, resultando em custos adicionais com manutenção de equipamentos e horas extras de funcionários. Nos Estados Unidos, o principal polo produtor, os salários nesse setor subiram 12% no período, encarecendo ainda mais o processo.

Efeitos prolongados da pandemia

A crise sanitária global deixou sequelas no mercado de vinil. Durante o auge da pandemia, entre 2020 e 2021, os preços médios deram seu maior salto – cerca de 11% em apenas doze meses. O fechamento temporário de fábricas, a escassez de contêineres para transporte marítimo e os atrasos nas cadeias logísticas criaram um efeito cascata que ainda não foi totalmente absorvido pelo mercado.

O levantamento mostra que mesmo após a normalização das atividades, os preços não retornaram aos patamares anteriores. Isso porque muitos dos aumentos de custos ocorridos durante a pandemia se revelaram permanentes, especialmente nos contratos de fretes internacionais e nos seguros de transporte.

Estratégias de mercado reinventadas

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As gravadoras (re)descobriram no vinil uma fonte de receita cada vez mais importante, e estão explorando esse potencial ao máximo. O relatório destaca três tendências que contribuem para a alta dos preços.

A proliferação de edições especiais, muitas vezes limitadas a poucos milhares de cópias, permite que as empresas cobrem valores premium. Artistas populares estão lançando múltiplas versões de um mesmo álbum – diferenças na cor do vinil, embalagens alternativas ou conteúdos exclusivos – que podem variar drasticamente de preço.

Outro fator é o crescimento dos chamados superfãs, colecionadores dispostos a pagar valores bem mais altos por itens exclusivos. Essa demanda aquecida permite que as gravadoras mantenham preços elevados mesmo para edições regulares.

Impacto nos hábitos de consumo

O estudo do Discogs revela como os colecionadores estão se adaptando a essa realidade. Muitos estão reduzindo o volume de compras, mas aumentando o valor médio gasto em cada aquisição. Outros estão migrando para o mercado de usados, onde é possível encontrar álbuns em excelente estado por valores 20% a 30% menores que os equivalentes novos.

RIAA mostra o crescimento do vinil do mercado americano (Crédito: Reprodução)
RIAA mostra o crescimento do vinil do mercado americano (Crédito: Reprodução)

Apesar dos preços mais altos, o amor pelo vinil parece intacto. O número total de transações na plataforma continua crescendo, embora em ritmo menor que nos anos anteriores. O que mudou foi a estratégia dos compradores, que estão se tornando mais seletivos e ponderados em suas aquisições.

Perspectivas para o futuro

Tudo indica que a era dos discos de vinil acessíveis pode ter chegado ao fim. Com custos de produção estruturalmente mais altos e uma indústria cada vez mais focada em edições premium, é pouco provável que os preços retornem aos patamares anteriores.

No entanto, o relatório do Discogs sugere que o mercado encontrará seu equilíbrio. À medida que os colecionadores se adaptam à nova realidade de preços, as gravadoras podem ser forçadas a repensar algumas de suas estratégias mais agressivas de precificação. O que permanece inalterado é o apelo único do vinil – uma paixão que, pelo visto, muitos estão dispostos a pagar para manter.

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