As plataformas de streaming e o mercado de ingressos estão cada vez mais interligados. Prova disso é que o CEO da Live Nation, Michael Rapino, confirmou que a empresa está em negociações com Spotify, Apple Music e Amazon Music para oferecer acesso antecipado a ingressos como benefício em assinaturas premium. A declaração foi feita durante a apresentação de resultados financeiros da Live Nation.
O interesse das empresas de streaming em ingressos não é recente. A possibilidade de incluir pré-vendas como diferencial para assinantes de pacotes exclusivos já vinha sendo discutida, e a recente divulgação sobre o novo plano ‘Super Pro’ do Spotify reforça essa tendência. A expectativa é que o serviço custe cerca de US$ 5,99 adicionais à assinatura Premium.
Streaming e ingressos no mesmo pacote
Como também é comum no Brasil, a Live Nation, que controla a Ticketmaster, tem histórico de parcerias para pré-vendas com bancos e empresas de telecomunicação, como Verizon e Citibank. Essas colaborações permitem que clientes de determinados serviços tenham acesso prioritário a ingressos antes da venda geral, aumentando a exclusividade e fidelidade dos consumidores. Agora, a empresa avalia se essa abordagem pode ser adaptada para plataformas de streaming.
Segundo Rapino, a negociação com Spotify, Apple e Amazon segue a mesma lógica de monetização da base de fãs, mas ainda precisa se provar vantajosa para artistas e investidores. As parcerias existentes já garantem uma receita significativa, e qualquer novo modelo precisa oferecer um retorno que justifique a distribuição de ingressos por esses canais. O maior desafio para integrar ingressos aos planos premium passa pela disponibilidade de estoque e pelo valor agregado para os artistas.
“O artista tem controle sobre seus ingressos e quer maximizar essa receita”, destacou Rapino. Grandes turnês exigem planejamento minucioso na precificação e na distribuição dos ingressos, o que torna a participação de novos intermediários um ponto sensível. O modelo atual da empresa busca equilibrar o acesso antecipado com patrocínios, garantindo retorno para todas as partes envolvidas. A inserção das plataformas de streaming nesse ecossistema pode trazer novas possibilidades, mas também levanta questões sobre como isso afetará a estratégia de venda direta dos artistas e o relacionamento com os fãs.
A disputa pelo superfã
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O conceito de ‘superfãs‘ está no centro dessa estratégia. O setor de streaming tem investido na segmentação do público, criando planos diferenciados para consumidores dispostos a pagar mais por conteúdo exclusivo. O chamado ‘Streaming 2.0’ é defendido por gravadoras como a Universal Music Group e inclui a busca por novos formatos de monetização, desde áudios de alta fidelidade até experiências exclusivas.
A tendência tem sido impulsionada pelo crescimento do mercado de shows ao vivo. A Live Nation fechou 2024 com receita de US$ 23,1 bilhões e um público recorde de 151 milhões de pessoas em seus eventos. Para 2025, a projeção é ainda maior, com mais shows em estádios e novas arenas dedicadas à música ao vivo.
O futuro do acesso antecipado
A implementação das pré-vendas via streaming ainda depende de negociações com artistas e distribuidoras. A dificuldade de escalar o modelo também é um fator, já que a demanda por ingressos de grandes nomes como Beyoncé e Taylor Swift costuma superar a oferta rapidamente. Ainda assim, a ideia de atrelar a venda de ingressos a assinaturas premium pode mudar o jogo para plataformas e artistas.
O Spotify já testou a venda direta de ingressos em 2022, mas decidiu ter mais cautela no setor em 2024. Agora, com novos acordos firmados com o Warner Music Group e Universal Music Group, a empresa estuda reforçar suas ofertas para superfãs. Amazon e Apple seguem a mesma direção, em busca de novas formas de valorizar suas assinaturas.
O que ainda está em aberto é o impacto dessa estratégia para o mercado de shows. Se os planos premium realmente garantirem acesso antecipado a eventos disputados, os superfãs podem encontrar mais um motivo para pagar a mais. Resta saber como os artistas vão equilibrar essa nova realidade com suas próprias estratégias de receita.