A cantora e compositora Bia Ferreira tem se destacado como uma das artistas brasileiras mais ativas no cenário internacional. Com 102 apresentações em 16 países e três continentes entre 2023 e 2024, ela consolidou sua presença em palcos de relevância global, passando por festivais e centros culturais de prestígio como Lincoln Center, The Kennedy Center, North Sea Jazz Festival e Shambala Festival. Agora, em 2025, ela segue com novas datas marcadas nos Estados Unidos e na França.
Bia comprova que artistas brasileiros conseguem, sim, levar sua arte para além das fronteiras, mesmo cantando em português e independente do número de ouvintes nas plataformas. Apresentando canções dos discos Igreja Lesbiteriana, Um Chamado e Faminta, além de inéditas, Bia combina sua música com reflexões sociais e históricas.
Seus shows vão além da performance musical e se tornam espaços de diálogo e provocação, abordando temas como racismo, direitos LGBTQPIA+ e desigualdade social. Muitas vezes, a interação com o público transforma as apresentações em experiências coletivas, onde as pessoas se sentem parte da mensagem transmitida pela artista.
Para isso, só é necessária a linguagem universal: a música.
Trajetória internacional
O primeiro país que recebeu um show de Bia Ferreira foi Portugal, em 2018. Aos poucos, seu nome começou a circular na cena internacional e, em 2022, uma apresentação no WOMEX, uma das mais importantes feiras de negócios da música, abriu novas portas. No evento, seu showcase foi apontado como o melhor da edição e chamou a atenção de contratantes de diversos países. A partir dessa visibilidade, convites começaram a surgir, e sua agenda passou a ser cada vez mais disputada.
A artista destaca que esse tipo de evento é uma oportunidade única para artistas independentes que buscam reconhecimento fora do Brasil.
“A oportunidade de apresentar o meu showcase na Womex veio através da minha inscrição no edital de curadoria aberto por eles. Não foi nossa primeira tentativa, mas ficamos muito orgulhosos em termos sido contemplados com essa oportunidade. Ter visto o meu show ser considerado o melhor show da feira em 2022 me possibilitou chegar a espaços inimagináveis pra mim, como Paleo Festival (Suíça), Shambala Festival (Inglaterra), Rio Loco Festival (França), Bratislava Jazz Festival (Eslováquia), Norte Sea Jazz Festival (Holanda), Womad Chile e Womad Italia. Enfim, pude o conhecer mais de 20 países depois de um show de 40 minutos no Womex, levando afeto e informação através da arte. Eu ainda não falava inglês, nem espanhol, nem francês. Nesse momento, foi o poder da arte que me conectou aos corações das pessoas. Me orgulhei por conseguir ser um instrumento da arte.”
O planejamento por trás das turnês de Bia Ferreira
O volume de shows internacionais e a presença constante em festivais relevantes são resultado de uma estratégia que envolveu planejamento e investimentos. Segundo Bia, o processo foi estruturado junto ao produtor Luís Bandeira, que a ajudou a enxergar os espaços a serem conquistados.
Além disso, a artista destaca a importância de ter aprimorado sua performance e comunicação. Construir uma relação sólida com programadores e agentes culturais também foi fundamental para garantir apresentações frequentes em grandes festivais.
Essa visão foi essencial para que ela pudesse crescer sem depender exclusivamente do alcance digital. Segundo Bia, construir um público fiel presencialmente tem sido um diferencial importante em sua trajetória.
“Entendi que a performance, a comunicação e a qualidade do que se apresenta são muito mais importantes do que quantos ‘seguidores’ virtuais você acumula nas redes sociais. Sendo assim, priorizei os meus esforços em aprender outros idiomas, pra me comunicar melhor, priorizei o meu estudo de instrumentos musicais e performance, encontrei bons músicos pra me acompanharem e fui com medo mesmo!”
Construção de uma rede e novos mercados
Além dos shows, Bia Ferreira também tem aproveitado sua visibilidade para palestrar em universidades e feiras de negócios. Em 2024, ministrou uma palestra na Universidade de Massachusetts e participou do Visa for Music, no Marrocos, com o objetivo de estar mais próxima de mercados na África e Oriente Médio. Para a artista, essa conexão direta com agentes culturais e o intercâmbio de experiências com outros músicos são essenciais para a continuidade de sua carreira internacional.
“Ser reconhecida como alguém importante para ocupar esses espaços me faz entender que a minha arte, sem o posicionamento político que trago, teria mais dificuldades para as relações interpessoais, que são fundamentais para a manutenção das possibilidades”, destaca.
A artista também reforça que estar presente em eventos desse porte facilita a construção de parcerias estratégicas, abrindo novas oportunidades de apresentações e colaborações internacionais.
Dicas para artistas independentes
Para quem deseja expandir a carreira para fora do Brasil, Bia aponta que a construção de um caminho internacional exige dedicação, estudo e paciência. Segundo a artista, preparar-se para o mercado, aprimorar a performance e entender que cada trajetória tem seu tempo são aspectos essenciais.
Além disso, ela recomenda que artistas busquem estar atentos a oportunidades de showcases, feiras e festivais que possam impulsionar sua presença internacional.
“Estudar o ofício da arte é importante. Seja qual for a área artística que te contempla, se dedicar a estudar te dá firmeza, confiança e principalmente segurança para dar o seu melhor. Saber receber críticas e saber pedir ajuda são fundamentais pra criar consciência artística e perceber que tudo é construção coletiva, nada se faz só! Acho que isso nos prepara para saber aproveitar as oportunidades que aparecem, sabe? Estar pronta quando a oportunidade vem. Essa é a minha meta sempre”, resume.
O impacto dos shows fora do Brasil
A experiência de se apresentar em diferentes países tem proporcionado um crescimento não apenas profissional, mas também pessoal para Bia Ferreira. A artista relata que essa vivência ampliou sua visão de mundo e reforçou a importância de sua arte como uma ferramenta de transformação social.
Para ela, cada apresentação é uma oportunidade de diálogo, de reconhecimento e de troca com o público.
“Esses 102 shows fora do Brasil nos últimos dois anos têm me ajudado inclusive na recuperação da minha autoestima como operária da arte, lembrando que o legado tem de ser prioridade, porque o mercado nem sempre valoriza arte. Esse ano, faço pela primeira vez um circuito de shows em países do continente africano. A arte me levando de volta ao continente mãe, por caminhos que meus próprios ancestrais possibilitaram. É de uma honra sem tamanho”, comemora.