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Entrevista: Paulo Rosa, Pro-Música, analisa crescimento fonográfico do Brasil acima da média mundial

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Redação

A Pro-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras fonográficas do Brasil, apresentou o seu relatório anual sobre o mercado fonográfico brasileiro, que registrou crescimento pelo sexto ano consecutivo. O Brasil subiu duas posições no ranking geral da IFPI e agora ocupa o 9º lugar mundial na indústria de música.

Diante de resultados positivos, após o período crítico da pandemia da Covid-19, que ecoarão durante o ano de 2023, o POPline.Biz é Mundo da Música entrevistou Paulo Rosa, Presidente da Pro-Música Brasil, que analisou o crescimento do mercado fonográfico brasileiro atingindo em 2022 R$ 2,526 bilhões (USD 489 milhões), o que representa um crescimento de 15,4% em relação ao ano anterior.

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Considerado “o ano da retomada”, em 2022 o streaming foi o principal responsável pelo crescimento do mercado, com as receitas subindo 15,4% e atingindo R$ 2,2 bilhões. As plataformas de streaming “on demand” continuam sendo a principal fonte de receita para a indústria fonográfica brasileira, representando 86,2% do total das receitas em 2022.

“Crescem as receitas de assinatura, que é a maior parte do bolo no streaming, ou seja, a maior arrecadação do streaming vêm das assinaturas. O outro tipo de arrecadação no streaming vem da publicidade, mas é significativamente menor do que as receitas que vem de assinatura. No nosso relatório, você pode ver isso facilmente e eu acho que 2022 marca o primeiro ano pós-pandemia, ainda com algum reflexo da pandemia, mas, já com a vida voltando ao digamos, ‘novo normal’ “, afirma Paulo Rosa, Presidente da Pro-Música Brasil.

Paulo Rosa, Pro-Música
Paulo Rosa, Presidente Pro-Música Brasil. Foto: Divulgação

As receitas com assinaturas em plataformas digitais alcançaram R$ 1,343 milhões, com crescimento de 21,6% em relação a 2021. O faturamento gerado por streaming remunerado por publicidade foi de R$ 447 milhões, com variação positiva de 35,2% em relação ao verificado em 2021. Já os vídeos musicais em streaming com interatividade, e remunerados exclusivamente por publicidade, geraram recursos de R$ 386,6 milhões em 2022.

O executivo da Pro-Música traça um paralelo anterior ao período da pandemia. Para Paulo, o modelo do trabalho híbrido é um exemplo que a sociedade vive um novo momento e isso também se reflete no consumo musical. Nós vemos que o mercado continua crescendo, com o crescimento determinado pelo mercado de streaming, a uma taxa bastante interessante”, diz Rosa.

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Mercado Fonográfico de 2003 a 2022. Foto: Pro-Música/Divulgação

Brasil: mercado fonográfico com crescimento médio acima da escala mundial

O crescimento do mercado brasileiro está acima da média mundial, segundo o relatório do IFPI divulgado em março. O levantamento internacional aponta que a indústria global de música gravada cresceu 9,0% em 2022, impulsionado pelo crescimento do streaming por assinatura paga, enquanto que no Brasil o crescimento foi de 15,4%. Os números divulgados pelo Relatório Global de Música da IFPI mostram que as receitas comerciais totais para 2022 foram de US$ 26,2 bilhões.

Paulo Rosa destaca esse resultado, como um dos principais do relatório, além disso, analisa que essa característica é típica dos mercados da América Latina. Segundo o executivo, um dos motivos é que a região teve os seus mercados bastante atingidos durante o início da primeira década desse novo século, muito em função da combinação: dos novos hábitos, das novas possibilidades de acesso às músicas – todas ilegais na época – downloads em sites que permitiam isso, etc, e a indústria na época sem ter um modelo para fazer frente a essa nova realidade.

“Além disso, na América Latina havia uma presença de pirataria física de CDs enorme, o que precipitou um declínio do mercado musical, que na época era praticamente só venda de CDs, bastante acentuada. Então, o streaming, de uma certa maneira, como ele está presente em toda a América Latina, tem uma relação custo-benefício bastante interessante para o consumidor e isso acaba criando uma condição muito favorável para que o consumidor de música, que quer ter acesso a uma funcionalidade muito maior no consumo, cada vez mais exista”, analisa Paulo.

Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022.
Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022. Foto: Pro-Música

O presidente da Pro-Música ainda acrescenta que o modelo de pagamento por assinatura deu muito certo no setor do audiovisual e, logo, no de música. “Você paga um valor fixo por uma assinatura e tem acesso a todo conteúdo disponibilizado em cada uma dessas plataformas. Hoje é um modelo dominante de distribuição de música ao redor do mundo.”

Brasil: Top 200 streaming em 2022

O relatório da Pro-Música também traz o ranking das músicas mais tocadas no streaming em 2022. Em primeiro lugar, está o single “Mal Feito” da dupla Hugo & Guilherme em parceria com Marília Mendonça. Ocupam, respectivamente, o segundo e terceiro lugares: “Malvadão 3” (Xamã, Gustah e Neo Beats) e “Vai Lá Em Casa Hoje” (George Henrique & Rodrigo ft. Marília Mendonça).

“Não são exatamente músicas que tem necessariamente ‘a cara urbana do Rio de Janeiro ou de São Paulo’, os grandes centros. Elas sugerem uma grande participação também de outras regiões. As mais tocadas, eu não estou falando do universo inteiro do streaming porque aí é uma coisa que um algoritmo pode analisar melhor a situação, mas, olhando para fotografia que as 200 mais tocadas nos permite ver; a gente sente que tem um pouco mais de presença plural das regiões aqui no Brasil do que tinha na época do mercado físico, onde os títulos mais vendidos não tinham necessariamente o mesmo perfil que os títulos das 200 músicas mais tocadas no streaming”, analisa Paulo Rosa.

Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022.
Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022. Foto: Pro-Música/Divulgação

O executivo continua: “nós vemos uma mudança de eixo que não é de agora e já vem nos últimos anos e coincide muito com a consolidação do mercado de streaming no Brasil. A gente analisa que deve haver alguma influência maior de outras regiões do que havia no passado. Então, quando a gente olha para essa fotografia, a gente enxerga muito mais o Brasil como um todo que a gente não via antes do mercado digital existir.”

Potencial crescimento para os mercados de Sincronização e Vinil

O crescimento da Sincronização no último ano foi de quase 19,1%, enquanto que o de Vinil cresceu 100,6% em comparação com 2021. Sobre o mercado de vinis, Rosa considera o crescimento incrível, mas, considera o setor ainda de nicho. A comercialização de vinis no Brasil, de acordo com a sua percepção, ficou voltado aos relançamentos de títulos, edições limitadas, sempre com tiragens pequenas, já que a capacidade de entrega das fábricas no Brasil, não atende a demanda.

O executivo analisa que o varejo de música atualmente é praticamente inexistente, já que existem poucas lojas especializadas. Com isso, o preço do produto acaba chegando mais caro ao consumidor.

“Mas, eu sinto que existe um desejo daquele consumidor mais ligado à música, de cada vez mais ter um vinil em casa, de ter algum aparelho para reproduzi-los que é outra questão também. Eu vejo uma possibilidade boa para o vinil aqui no Brasil, mas a capacidade de produção das fábricas brasileiras têm que aumentar substancialmente e o varejo de música tem que dar sinais de vida, que até agora não deu”, reflete Rosa.

Em relação ao mercado de sincronização, Rosa analisa que o crescimento é positivo, no entanto, os números ainda são baixos no Brasil.

“Acho que o potencial é enorme, tanto para sincronização para filmes brasileiros quanto para audiovisual brasileiro produzido por televisão. Acho que, historicamente, o setor fonográfico trabalha mal a exploração desses direitos de sincronização, é um tipo de receita que às vezes a negociação desse tipo de conteúdo entre gravadoras para se ter uma música em uma determinada gravação, filme, emissoras de televisão com interesse comercial e promocional, ou naquela minissérie, programa; muitas vezes, o que se cobra pela própria sincronização não é o que se deveria. Acho que isso acontece no mundo inteiro, mas, acho que globalmente a indústria está se voltando para o potencial dos direitos de sincronização e acho que eles vêm crescendo”, diz Paulo Rosa.

Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022. Foto: Pro-Música/Divulgação
Relatório Mercado Fonográfico Brasileiro 2022. Foto: Pro-Música/Divulgação

Operação 404: combate aos fake streams

A IFPI e o Pró-Música Brasil se juntaram para apoiar autoridades policiais brasileiras, que concluíram uma série substancial de ações como parte da ‘Operação 404’ em andamento. A iniciativa tem como objetivo combater os direitos autorais e os serviços de violação de licenciamento na Internet.

A Operação 404 é uma das maiores campanhas de violação de direitos autorais desse tipo e inclui uma série de ações voltadas para serviços de música não-licenciados. Até o momento, a operação já alcançou amplo sucesso, resultando na suspensão de quase mil domínios, remoção de 720 aplicativos de música infratores e entrega de 96 mandados de busca. 

“Acho que é muito importante a Operação 404, é importante que ela aconteça, com duas ondas por ano — a primeira em março/abril e a segunda outubro/novembro — sempre com resultados bastante expressivos. Se há uma coisa que a gente pode comemorar no caso dos direitos autorais e conexos no Brasil é exatamente esse tipo de operação que é tocada pelo Ministério de Justiça e continua sendo pelo ministério mesmo com a mudança de governo e outras iniciativas”, comenta Paulo.

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Foto: Unsplash

O executivo acrescenta: “eu destaco aqui o MPSP, com quem nós e outros setores são afetados pela pirataria digital, a gente tem um protocolo de atendimento que a gente ajuda e subsidiar informações para que eles possam investigar rede de informações de natureza criminal operando e até na defesa do consumidor no Brasil e no exterior. Essas iniciativas ajudam bastante a proteger o mercado legítimo e a ajudar na sustentabilidade desse mercado.”

O que esperar do mercado da música no Brasil em 2023?

De acordo com Paulo Rosa, é difícil qualquer projeção, porque isso depende muito de alguns fatores macroeconômicos. Porém, de acordo com o executivo, a economia do país tem que dar sinais que está se recuperando e o mercado interno precisa. aquecer.

“O setor do comércio está vendo um horizonte positivo para esse ano. Eu acho que vamos torcer para que o Brasil continue se recuperando, apresentando bons indicadores, em benefício para um crescimento da população como um todo. Porque assim, cresce o mercado de consumo e esse crescimento vai bater nos nossos números de uma forma ou outra. Se eu tivesse que fazer alguma projeção para 2023 é a continuidade do mercado de streaming tanto aqui no Brasil quanto no mundo”, finaliza Paulo Rosa.