Especialistas analisam 7 práticas que estão mudando o jogo dos lançamentos entre 2025 e 2026

Profissionais da Jangada Comunicação e da 7discos detalham como timing, narrativa e construção de público deixaram de ser detalhe em 2025 e passam a orientar estratégias de lançamentos em 2026.
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Nathália Pandeló
Leo Duarte, supervisor de conta na Jangada Comunicação; Laura Sampaio, CEO da 7discos; e Guilherme Silviano, também supervisor de contas na Jangada Comunicação (Crédito: Divulgação) lançamentos
Leo Duarte, supervisor de conta na Jangada Comunicação; Laura Sampaio, CEO da 7discos; e Guilherme Silviano, também supervisor de contas na Jangada Comunicação (Crédito: Divulgação)

Se você sentiu que o mercado musical deu uma “sacudida” nos últimos meses, não foi impressão sua. O jeito de lançar música em 2025 mudou drasticamente, e quem ainda está tentando seguir a cartilha de três ou quatro anos atrás está, literalmente, ficando para trás. O que antes era considerado um “detalhe” técnico (como o dia da semana ou a estética de um post) agora é o que separa um lançamento que desaparece em 24 horas de um projeto que realmente constrói uma carreira.

Para entender o que está guiando os grandes movimentos deste ano e o que será regra em 2026, conversamos com especialistas que estão no olho do furacão. Profissionais da Jangada Comunicação e da 7discos abriram o jogo sobre como o timing, a narrativa e a construção de comunidade deixaram de ser acessórios para se tornarem o coração da estratégia. Confira as 7 práticas que estão redefinindo o jogo:

Como os lançamentos mudaram em 2025

1. O fim do monopólio da sexta-feira

Lançamentos musicais no primeiro trimestre - Charli XCX
Crédito: Reprodução Spotify

Por anos, a sexta-feira foi o dia sagrado para novos lançamentos devido às atualizações de playlists. Mas em 2025, a estratégia de “fugir do barulho” ganhou força. Lançar no meio da semana tem se mostrado uma alternativa inteligente para quem quer uma comunicação mais próxima com os fãs e menos concorrência direta com os grandes astros do mercado.

“Por muito tempo, era praticamente regra programar lançamentos para esse dia (por conta da virada de playlists), mas hoje vemos cada vez mais artistas lançando músicas em dias e horários alternativos. Isso diminui a disputa por atenção e permite criar ações mais exclusivas, levando em conta o comportamento da própria base de fãs”, afirma Leo Duarte, supervisor de conta na Jangada Comunicação.

“Em 2025, alguns ajustes no timing dos lançamentos deixaram de ser apenas percepções e passaram a mostrar efeitos nos resultados. A sexta-feira seguiu como o dia padrão de lançamento quando o objetivo foi escala, já que concentra tanto os mecanismos de descoberta das plataformas quanto a atualização das listas editoriais e da imprensa musical. Lançamentos no meio da semana, por sua vez, funcionaram melhor quando a estratégia priorizou comunicação, relacionamento e menor concorrência direta, sempre sustentados por uma campanha ativa”, complementa Laura Sampaio, CEO da 7discos.

2. O álbum como uma obra coesa (e não um amontoado de singles)

Black Friday - Discos de vinil em promoção

Depois de uma era dominada por singles soltos, o público voltou a desejar profundidade. Em 2026, a tendência é que o álbum seja tratado ainda mais como uma experiência completa. Não basta ter uma música boa; é preciso que o projeto tenha um conceito visual e narrativo que amarre todas as faixas e faça sentido para quem ouve do início ao fim.

“Vejo como principal tendência a necessidade do álbum ser entendido como um projeto completo, com narrativa clara, coesa e bem estruturada. Em um cenário saturado por um excesso de lançamentos, são esses projetos que conseguem se destacar, gerar conexão real e despertar interesse duradouro no público. Exemplos recentes como Caju (Liniker), Debí Tirar Más Fotos (Bad Bunny), Rock Doido (Gaby Amarantos) e Lux (Rosalía) mostram que focar em uma história forte e bem amarrada é mais eficaz do que tentar ocupar muitos espaços e prateleiras de forma superficial”, pontua Guilherme Silviano, também supervisor de contas na Jangada Comunicação.

3. Respeito ao tempo de vida de cada faixa

Programando um lançamento no Spotify para Artistas
Programando um lançamento no Spotify para Artistas (Crédito: Divulgação)

Um erro comum tem sido atropelar o próprio trabalho. Lançar uma música atrás da outra sem dar tempo para o público absorver a anterior acaba diluindo a atenção e o investimento. 

A nova regra é o espaçamento estratégico: permitir que cada single tenha seu momento de brilho e crie sua própria onda de conteúdo antes de seguir para o próximo passo.

“Ficou claro que lançar singles em sequência muito curta tende a disputar a própria atenção do projeto e diluir o investimento. As estratégias mais eficientes respeitaram a vida útil de cada faixa, criando ondas de conteúdo antes de avançar para o próximo lançamento”, analisa Laura Sampaio, CEO da 7discos.

4. Na contramão do ‘descartável’

Instagram - parar de seguir
Crédito: Freepik

O cansaço do público com vídeos frenéticos e tendências passageiras abriu portas para uma abordagem mais humana e lenta. O conteúdo que amadurece e cria contexto está vencendo a batalha contra o que é puramente viral. Em 2026, o foco sai da velocidade e volta para a capacidade do artista de comunicar as diferentes camadas do seu trabalho.

“Em 2025, o comportamento do público deixou claros sinais de cansaço diante de conteúdos apressados e descartáveis, abrindo espaço para uma lógica de slow content, em que a música e seus desdobramentos têm tempo para circular, criar contexto e gerar vínculo”, pondera Laura Sampaio.

5. Menos pedidos de “pre-save” e mais pertencimento

Hub de próximos lançamentos do Spotify
Hub de próximos lançamentos do Spotify (Crédito: Divulgação)

Pedir para o fã clicar em links o tempo todo se tornou cansativo e pouco eficaz. O segredo agora é criar um universo tão interessante que o público queira fazer parte dele naturalmente. 

Quando a narrativa é forte, ações como o pre-save ou o engajamento em vídeos deixam de ser um “favor” e passam a ser uma consequência da conexão real com a história contada.

“Dentro de um cenário de excesso de lançamentos e de calls to action constantes, insistir em muitos pedidos ao público tem se mostrado cada vez menos eficaz. Mais do que pequenas conexões superficiais, é fundamental fazer com que sua audiência viva a narrativa que está sendo proposta. Ninguém faz um pre-save ou assiste a um videoclipe sem uma conexão real. Uma boa estratégia hoje desenha um universo no qual o público queira pertencer. Em um ambiente onde todos pedem atenção o tempo todo, histórias consistentes criam vínculos reais”, orienta Guilherme Silviano.

6. Comunidade como base estrutural (e não etapa paralela)

Marketing musical em 2026
Crédito: Macrovector

Lançar música para “ninguém” esperando que o algoritmo faça um milagre é uma estratégia fadada ao erro em 2026. Os lançamentos de maior sucesso são aqueles que já possuem uma base de fãs ativa e engajada antes mesmo da primeira nota ser ouvida. Construir essa comunidade é parte do trabalho diário, e não algo que se deixa para a semana do lançamento.

“No fim, o timing só fez diferença quando encontrou demanda real. Lançamentos com melhor desempenho foram aqueles apoiados por uma comunidade ativa, capaz de responder desde o início. Onde essa base ainda estava em formação, ficou evidente que construir público não é etapa paralela ao lançamento, mas parte estrutural da estratégia”, explica Laura Sampaio.

7. O perigo da dependência de uma única plataforma

Usuário acessando o aplicativo TikTok em um smartphone, destacando a interface do app com a logo do TikTok. O cenário apresenta um ambiente confortável e aconchegante. Estudo da Luminate avalia o impacto do app. estratégias digitais

Apostar todas as fichas apenas no TikTok ou apenas no Instagram é um risco que os profissionais não querem mais correr. Mudanças de algoritmo e saturação de formatos podem deixar o artista no escuro da noite para o dia. O futuro exige diversificação e o desenvolvimento de canais de relação direta com o público para garantir a longevidade da carreira.

“Concentrar esforços em apenas um ambiente deixa o artista refém de mudanças de algoritmo, saturação de formatos e decisões externas, enfraquecendo a construção de uma relação própria e direta com o público”, completa Sampaio.

“Em 2026, tende a performar melhor quem equilibra alcance e profundidade: constrói comunidade, estimula recorrência e desenvolve a obra com continuidade. Nesse modelo, plataformas e tecnologia seguem como aliadas, mas o centro da estratégia volta a ser a relação direta com o público”, ela conclui.

Não é novidade que o universo da música é cheio de transformações constantes e, às vezes, um pouco imprevisíveis. Mas é justamente esse dinamismo que torna o mercado tão fascinante. Estar por dentro dessas novas lógicas e boas práticas não é apenas uma questão de estratégia técnica, mas sim o que pode realmente fazer a diferença entre uma música se perder no oceano de lançamentos ou encontrar o seu público ideal. Afinal, em um mundo de streaming tão concorrido, a informação certa é a ponte que transforma o talento em conexão real.

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